Um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na última sexta-feira, 7 de junho, mostrou qual é o perfil socioeconômico dos usuários de internet no Brasil, assim como o seu comportamento digital. Os dados, coletados em 2017 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Comitê Gestor da Internet no Brasil, apontam que 61% dos lares brasileiros estão conectados e que o mundo virtual reproduz as desigualdades do mundo real.
Segundo o estudo, 120 milhões de brasileiros, acima dos 10 anos, têm acesso à internet, o que representa 67% da população. As disparidades no consumo de conteúdo digital, porém, aparecem diante do recorte econômico do país. Nas classes A e B, por exemplo, 90% das pessoas usam a internet no dia a dia. Já entre as classes D e E esse número despenca para 42%.
Para André Miceli, coordenador do MBA de Marketing Digital da Fundação Getulio Vargas (FGV), dois fatores contribuem diretamente para essa diferença: o histórico e o cultural. “As classes A e B têm acesso há mais tempo, chegou primeiro para eles. Por isso, eles conseguem entender melhor a importância e o funcionamento da internet”, explica. O especialista ainda salienta que a qualidade e a possibilidade de acesso tem grande influência nessa divisão.
Outro dado apontado pelo Ipea é que 70% dos moradores das cidades estão conectados, contra apenas 44% nas áreas rurais. Para Miceli, a lógica que explica a disparidade é a mesma. “O recorte econômico é o que interfere mais. Na zona rural, quem está nas classes A e B continua tendo mais acesso que as classes D e E. O fazendeiro, por exemplo, também está transitando na cidade, então ele supre essa desvantagem. Mas o trabalhador rural pobre não tem essa mesma possibilidade”, destaca, ressaltando que os grandes centros urbanos são muito mais dependentes da internet do que as áreas rurais, o que ajuda a aumentar a diferença.
Falar em soluções para essas disparidades envolve amplos e importantes debates. Porém, Miceli sugere duas iniciativas que podem ajudar, especialmente se forem coordenadas. Uma é a criação de acessos coletivos à internet, bem nos moldes das lan houses dos anos 1990 e 2000. Ele defende que, em um primeiro momento, a proposta pode democratizar mais o acesso daqueles que não têm condições ou não sabem como consumir conteúdos digitais.
Mas, em um segundo momento, é preciso falar sobre infraestrutura. “Quando as pessoas estiverem mais ambientadas, será necessário pensar e debater sobre cobertura, antenas, pacotes de dados e tudo mais que limita o acesso de usuários e regiões”, adianta Miceli, que continua: “Quanto mais infraestrutura e oferta, mais condições para o acesso”.
Homens e mulheres na internet
Outro índice apontado no estudo feito pelo Ipea, com base nos dados coletados pelo Cetic.br em 2017, é a diferença entre os hábitos do público masculino e feminino na internet. Os homens representam 51,3% da fatia que consome notícias e escuta músicas online, contra 48,7% das mulheres. É deles também a maior parte nas ações de jogar online e baixar conteúdo de jogos e filmes, representando mais de 60%.
Miceli afirma que, apesar de pequena, a diferença mostra uma questão de cultural de criação. O professor explica que, em breve, esses números tendem a mudar e seguir a lógica da população: cerca de 52% dos brasileiros são mulheres.
Para ele, a maior diferença entre a presença e atividades de homens e mulheres na internet está nas zonas rurais. “Acredito que isso está associado à maneira como os meninos foram criados, o que foram educados a gostar. Hoje isso está mudando, mas em um passado não muito distante, as mulheres eram criadas para o lar. É o reflexo das gerações mais antigas e acaba atingindo mais quem está nas áreas rura
Indicador de Confiança Digital
O estudo do Ipea ainda aponta que jovens e adultos, entre 10 e 34 anos, têm maior presença na internet. Em termos de consumo de notícias, essa fatia consome 58,5%. Já os internautas com 60 anos ou mais representam 5,3%.
Segundo o Indicador de Confiança Digital elaborado pela FGV, jovens de até 17 anos, que já nasceram em uma cultura digital, são mais pessimistas em relação à tecnologia. Enquanto isso, a população idosa é mais otimista. “Quem está acima dos 65 anos convive apenas com a parte boa. A tecnologia, de forma geral, ajuda essas pessoas a superarem problemas. É um perfil que está mais afastado da exposição da privacidade ou da possibilidade de ver a tecnologia avançando a ponto de ameaçar alguns empregos”, explica Miceli.
O especialista ainda alerta que a maioria das empresas voltam seu mercado digital para os jovens. Enquanto isso, o público acima de 65 anos está presente na rede, consumindo conteúdo e tendo uma posição mais positiva em relação à internet, mesmo que estejam presentes em menor percentual se comparados a outras faixas etárias a partir de 10 anos.
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