The Medium é um jogo de terror desenvolvido pela Bloober Team, dos mesmos criadores de Layers of Fear, Observer e o assustador Blair Witch. Com uma pegada que remete aos clássicos do terror, como Silent Hill e Resident Evil, o game narra a história da médium Marianne que parte em uma jornada em busca de respostas para o seu passado.

Disponível para PC (Steam e Epic Game Store) e Xbox Series X/S, ambos também pelo Game Pass, o título promete uma jogabilidade nunca vista antes, em que a protagonista pode explorar dois mundos ao mesmo tempo. Mas será que o game é capaz de entregar uma verdadeira experiência de terror psicológico? Confira, no review do TechTudo, a análise completa dos prós e contras de The Medium.

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Viajando entre mundos

A maioria das pessoas passa a vida vendo apenas uma parte da realidade. Não é o caso de Marianne, a protagonista de The Medium. Atormentada por uma habilidade psíquica que, em sua opinião, mais se assemelha a uma “maldição” do que algo positivo, Marianne é capaz de transitar entre o mundo físico e espiritual. O detalhe é que, muitas vezes, essa “viagem” não é feita por vontade própria.

A dualidade é a chave do jogo e da vida de Marianne. Sentimentos, memórias e tragédias são poderosos ao ponto de partir a realidade ao meio. Neste caso, a divisão é literal quando se trata da tela do jogador. A consequência desse corte é mostrado na capacidade da jovem de poder ver, sentir e interagir com espíritos e memórias que vagam pelo mundo dos mortos.

Com esse diferencial, The Medium mostra que não é preciso reinventar a roda para inovar, mesmo em um gênero já saturado como o do terror. Os poderes de Marianne não se limitam a uma viagem simples de ida e volta, e a principal mecânica explorada no game envolve a possibilidade de enxergar dois planos ao mesmo tempo.

Com isso, as peças para o quebra-cabeça de seus poderes se distorcem entre o real e o espiritual, e a partir daí que a trama se desenrola. Marianne começa sua jornada em um resort abandonado, local cercado pelo sofrimento das vítimas de uma terrível tragédia. Sua única pista são as palavras de um homem misterioso chamado Thomas, que afirma conhecer a verdadeira identidade da médium. Contudo, diferente de outros games de terror em que tudo se passa em uma tela, o jogador deve ficar atento às duas realidades para desvendar os mistério que cercam o passado de Marianne.

No entanto, não é apenas na história que The Medium dá um pulinho no passado. Logo no começo, fica evidente que o game resgata uma série de elementos de séries consagradas do terror, como Silent Hill e Resident Evil, especialmente em termos de visuais e de jogabilidade. A começar pela câmera fixa em terceira pessoa, um clássico do gênero – e que torna The Medium perturbadoramente satisfatório. Mesmo que mínima, a falta de controle sobre o ângulo de visão intensifica cada susto. Estes que, por sinal, são bem feitos e precisamente encaixados em momentos em que o jogador menos espera.

A luz de uma lembrança

Os quebra-cabeças também têm um ar nostálgico em sua construção. Isso porque a trama é contada de maneira sutil, pedaço por pedaço por meio de notas, desenhos e memórias que expressam os sentimentos e aflições de seus autores. Para quem lembra de Silent Hill: Origins, o jogo da Bloober Team segue uma mecânica bem semelhante de troca de “mundos”.

Inclusive, há momentos em que Marianne precisa usar espelhos para viajar entre os planos, assim como Travis faz no prólogo de Silent Hill. O resultado disso são puzzles um pouco mais complexos, fragmentados, que fazem com que o jogador tenha que ativar um item no mundo dos mortos para que uma porta possa se abrir no plano dos v�

... �deos. Por sorte, Marianne pode contar com sua “intuição”, que ilumina itens chaves nos cenários.

Contudo, as referências aos clássicos só vão até certo ponto. Em relação à jogabilidade, The Medium é um jogo mais voltado para a sobrevivência. Ou seja, não há armas ou qualquer combate durante as sequências contra inimigos ou ameaças do mundo imortal. O game também lembra Remothered: Tormented Fathers, outro título de terror que buscou inspiração em títulos como Clock Tower. Aqui, o foco não é a ação. Ou pelo menos não se mostra ser. A história é o ponto principal de The Medium.

A narrativa é pesada e bebe da fonte do terror psicológico. Contudo, sabe tocar em assuntos como abuso sexual, violência e espiritualidade de maneira intrigante, madura e bem desenvolvida, com partes onde é quase impossível não sentir empatia pelas almas atormentadas. Mesmo no plano dos mortos, todo o elenco do jogo parece “vivo” a todo momento. Desenvolve-se uma relação entre o jogador e os persongens, ao ponto que se torna difícil não sentir agonia, frustração e até mesmo raiva diante determinados acontecimentos na jornada de Marianne.

A única parte em que podemos dizer que há “ação” está nas sequência de perseguição. Sem armas para se defender, o sentimento de pânico e aflição de Marianne se intensifica durante o game. Especialmente quando o principal inimigo de médium surge à tona: o Maw (traduzido do inglês, Mandíbula). Dublado pelo talentoso Troy Baker, a criatura persegue a jovem em diversos momentos durante a história, manifestando desejos e pensamentos grotescos e muito perturbadores. Sua única opção é fugir, em um minigame que consiste em brincar de esconde-esconde com um monstro gigante.

A habilidade de Marianne não se limita a enxergar o outro lado. Ela também é sua defesa contra o mundo espiritual, podendo criar escudos ou explosões de energia. O poder, contudo, dura pouco e Marianne precisa recarregá-lo, tocando nas poucas luzes de lembranças positivas. A energia, quando carregada, aparece como faixas em seu braço.

Já a vida da jovem está diretamente associada à cor do cenário – quanto mais dano Marianne recebe, mais preta e branca a tela do jogo se torna. O game é bem imersivo nesse ponto, pois utiliza de uma interface simples ao ponto de não mostrar qualquer informação do personagem, recurso utilizado por muitos outros títulos para tornar a experiência mais realista.

Outro adicional aos quebra-cabeças é o fato da jovem médium também ser capaz de realizar projeções astrais. Com a habilidade, Marianne pode entrar em lugares onde seu corpo físico não permite. Porém, apenas por um determinado tempo, pois seu corpo espiritual passa a desparecer, resultando na morte do seu físico. Esse detalhe adiciona um level interessante de complexidade ao game, já que o jogador precisa calcular o tempo e o local do corpo de Marianne para avançar no mapa ou coletar itens importantes.

Vazio como um fantoche

Mas, assim como a dualidade presente no jogo, The Medium também possui “outro plano”. Só que, diferente do mundo grotesco e bem feito do game, esse não se desenvolveu muito bem. Por mais que o título acerte precisamente no combo de narrativa perturbadora e ambientação macabra, sua história é extremamente linear e não oferece espaço para muitas falhas. Isso não parece algo ruim à primeira vista.

Contudo, a medida que o jogo avança é perceptível como os puzzles são fáceis, e até mesmo repetitivos. Os momentos em que o jogo permite "falhas" se limita aos encontros com a criatura gigante, quando Marianne pode ser atacada. Para um jogo focado em sobrevivência e quebra-cabeças, em que o fator de tentativa e erro deveria se fazer presente a todo momento, isso está longe de ser um ponto positivo.

O que acontece é que, diferente de outros clássicos do gênero de terror, em The Medium o jogador não perde pouco tempo procurando ou pensando em que itens utilizar. Isso porque normalmente eles já estão ali, bem pertinho do quebra-cabeça. Achou uma chave? Bem capaz que a porta esteja do seu lado. A dificuldade também não é sinônimo de desafio e não há como selecionar um nível diferente. O jogo funciona menos como "sobrevivência" e mais como uma história interativa.

Enquanto os cenários são capazes de provocar todos os tipos de sensações no jogador, a animação facial dos persongens deixa um pouco a desejar. As expressões do elenco, e especialmente de Marianne, não acompanham o incrível trabalho de dublagem do game. Muitas vezes, as feições são estranhas e pouco fluídas, como se o personagem fosse um robô tentando mover os lábios.

Outro ponto que pode se tornar frustrante é o salvamento automático. The Medium não possui opção de salvamento manual, o que não é necessariamente um problema. No entanto, algumas sequências de perseguição ou projeção são longas o suficiente para incomodar o jogador caso seja necessário tentar novamente. Os puzzles, que vão se tornando repetitivos, também ajudam a fazer da morte uma experiência frustrante.

Ecos do outro mundo

Mesmo com esses pontos negativos, se você tem interesse em The Medium pela história certamente não irá se arrepender. Além das referências claras aos clássicos do gênero, o mundo perturbador de The Medium é inspirado pelas obras surrealistas e aterrorizantes do pintor Zdzisław Beksiński. De longe, a ambientação é um dos pontos fortes do jogo, que usa e abusa de cenários que refletem toda a dor e sofrimento das almas perdidas, pintados em diferentes tons de vermelho, laranja e azul.

São os detalhes, somados ao visual incrível do game, que tornam The Medium uma autêntica experiência de terror psicológico. Rostos sem nome aprisionados nas paredes, almas destroçadas e sem a possibilidade de encontrar a luz no fim do túnel. Brinquedos abandonados e bonecas desfiguradas refletem memórias que imploram para serem esquecidas no tempo. Mariposas, tentáculos, pessoas sem face. É como diz o ditado, uma imagem vale mais do que mil palavras.

Até mesmo a localização brasileira merece elogios, adaptando expressões e até mesmo xingamentos para o português nas legendas. Para quem ainda enfrenta barreiras de linguagem na hora de jogar videogames, a tradução é uma ótima pedida neste caso.

E não para por aí. O jogo de terror da Konami não está incluso aqui somente como uma inspiração. A trilha sonora é composta por Akira Yamaoka, conhecido pelo seu fantástico trabalho na série Silent Hill. Sua participação acompanha Arkadiusz Reikowski, responsável por momentos aterrorizantes em Layers of Fear e Blair Witch. Em The Medium, o trabalho sonoro anda de mãos dadas com a ambientação e sua história. Gritos, gemidos e sussurros espreitam cada segundo da jornada de Marianne, mostrando que o terror pode se apresentar em muitas formas e sons.

Conclusão

The Medium é um título que entrega o que promete, mas em parte. O combo do trabalho visual e sonoro colocado no game encaixa como uma luva em sua narrativa pesada e macabra. Aqui, o jogador vai encontrar o que espera de uma experiência voltada para o terror psicológico. A mecânica de dois mundos na tela é essencial para contar a história de maneira impactante e é certamente um detalhe único do jogo da Bloober Team.

Claro que há tropeços no escuro, como quebra-cabeças fáceis e animações faciais que não chegam perto da qualidade de sua gráfica geral do game. Ainda assim, The Medium vai agradar os fãs de terror que buscam por histórias de arrepiar a alma, e com aquele toque exato de nostalgia.

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