O brasileiro não tem um dia de paz. Como se não bastassem todos os demais problemas, aqueles consumidores que agora buscam um novo celular para as atividades do dia a dia podem preparar o bolso, pois ficou impossível comprar um bom aparelho por um preço bacana. São quatro motivos que explicam esta situação.
A interrupção da cadeia produtiva da China é o primeiro deles. Quando a crise do coronavírus ainda era uma epidemia, as fábricas chinesas tiveram de fechar as portas e parar de fabricar componentes que são necessários na produção dos aparelhos eletrônicos mais cobiçados. Foi assim no começo do ano.
O Brasil até tem produção local, concentrada nos estados de São Paulo e Amazonas. São instalações que se dedicam principalmente a montar os smartphones a partir de muitas peças importadas. Ao fechar lá, os chineses impactaram a vida fabril aqui.
Quando a epidemia virou pandemia, foi a vez da produção nacional também sofrer engasgos e reduções, tendo em vista a necessidade de se adequar às normas de segurança. Hoje em dia a situação caminha para a normalização, mas os efeitos foram nefastos, com direito à maior queda desde 2018.
Para piorar, acrescente o motivo número dois: o dólar. A moeda dos Estados Unidos se valorizou diante das demais moedas do mundo. Enquanto isso, o nosso real amargou o título de câmbio mais desvalorizado.
Em outras palavras, as peças já estavam em falta e as que sobraram ficaram mais caras.
Isto fez com que uma parcela importante dos preços fosse reajustada. Na última segunda-feira (17), publicamos com exclusividade um levantamento que comprova que oito dos dez celulares mais procurados do país tiveram, em julho, o maior preço do ano. A alta chega a 19%.
Somente dois modelos da Apple ficaram mais baratos. Ainda assim, convém lembrar que é quase uma lei de mercado ver o iPhone custar mais do que os Samsungs e Motorolas no top 10 nacional. Ainda que tenham caído, eles continuam pesando no bolso do consumidor, estrangulado em meio a demissões, reduções de salário e demais dificuldades econômicas do cenário atual. Este é o terceiro motivo.
Para completar, o quarto motivo diz respeito ao custo-benefício dos equipamentos. Você já parou para ver o Nokia 2.3, lançado por R$ 999? O smartphone trava a todo momento. O mais básico dos telefones básicos não consegue desempenhar as tarefas mais básicas. Na condição de especialista deste setor, fico até constrangido de falar que não existem bons smartphones da safra 2020 por menos de R$ 1.700 ou algo próximo disso.
Uma graduada fonte com anos de experiência em telecomunicações me confidenciou que era melhor ir se acostumando acostumando com preços “a partir de R$ 1.200”. Já parecia ruim, mas a realidade que se impõe é ainda pior.
Outros lançamentos do momento, o Galaxy A51 e o LG K41 decepcionaram nas nossas primeiras impressões. Sabe quando você está dirigindo o carro e sente que ao pisar no acelerador, o veículo pede socorro para te atender? Pois então. O desempenho deixa a desejar e o preço sugerido no lançamento só faz crescer.
Chega a ser mais triste quando a gente fala do aparelho da Samsung, pois a geração anterior – o Galaxy A50 – fez muito bonito no ano passado ao aliar boa tecnologia (com direito até a leitor de digitais embutido na tela), desempenho veloz e preço atraente.
Lançado em abril por R$ 1.999, ele chegou à Black Friday 2019 beirando os R$ 1.000. Uma oportunidade espetacular.
Hoje vemos o contrário disso. A todos que têm me perguntado qual smartphone comprar, minha resposta mais sincera tem sido esta: este é o pior momento para escolher um novo celular. Tudo está caro. E os mais baratos prova
Se te for possível, recomendo aguardar um pouco mais de calmaria nestas águas turbulentas que estamos atravessando. Mas pode ser que o coitado do seu celular aparelho esteja pela hora da morte. Neste caso, talvez seja uma boa ideia dar uma olhada em smartphones classe premium dos últimos dois anos.
Thássius Veloso é jornalista especializado em tecnologia, setor que cobre há dez anos. É editor do TechTudo e comentarista da CBN e da GloboNews. Entre em contato pelo email [email protected].
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