O Microsoft Lumia 950 procura afirmar-se como um portento da produtividade, graças às apps universais e cavalagem suficiente para o tornarem compatível com o Windows Continuum, mas se há um aspecto onde o Lumia 950 se distingue da maioria da concorrência é mesmo na câmara. Antes da passagem para as mãos do gigante de Redmond, os Nokia – Lumia e outros – já primavam por algumas das melhores câmaras do mercado. Eram os telemóveis de eleição para quem queria prestações fotográficas e o Lumia 950 recupera essa tradição, dois anos e picos após o icónico 1020.
Mas o que torna a câmara do Lumia 950 única? Há várias respostas. Não é efectivamente uma campeã de megapixéis, a honra pertencendo ao Sony Xperia Z5, e será indiscutível que outros dispositivos possuem prestações soberbas, mas a Microsoft integrou efectivamente algumas ideias bastante interessantes que mostram que nem só de pixéis se fazem as câmaras.
Ópticas Karl Zeiss.
O nome Zeiss sempre significou algo de excepcional no mundo óptico, quer falássemos de binóculos, telémetros ou objectivas. Especificamente, vidro de elevada qualidade, soberbamente polido, com excelentes propriedades de transmissão de luz e engenharia superior. Com a Sony a dominar o mercado dos sensores ópticos, é normal encontrarmos o mesmo chip em diversos telemóveis, mas o caso é diferente para as ópticas. Se de baixa qualidade, tornam-se propensas a reflexos e flares exacerbados por sensores de pixéis diminutos e “apertados” entre si, o que propicia a passagem de corrente residual entre si.
Estabilização óptica de imagem
Ainda no domínio da engenharia, a estabilização óptica de imagem (OIS) não é de todo exclusiva do Lumia 950. O seu nome indica tratar-se de uma estabilização que ocorre mecanicamente pelo realinhamento dos elementos ópticos, não através de software de processamento de imagem e é fundamental quando os sensores atingem densidades de pixéis tão elevadas. Nestes casos, a mais pequena tremura pode desfocar uma imagem e, sem a OIS será sempre notoriamente mais difícil obter uma imagem focada com um sensor de 20MP que com um de 13MP.
Flash Tricolor
O flash tornou-se uma comodidade obrigatória nos smartphones actuais. De facto, quer o dispositivo custe 50€ ou 500€, é imperdoável não trazer um flash. No lado negativo, os flashs iluminam, mas projectam sombras extremamente duras, tons frios e escurecem inaceitavelmente o segundo plano. Os smartphones de melhor qualidade têm apostado em flashes de dois tons, mas o Lumia 950 vai mais longe e acrescenta um flash RGB.
O formato RGB é o padrão nos sensores fotográficos. É a partir dessas três cores que todas as tonalidades e cores são obtidas nas fotografias, especificamente através de um filtro do tipo Bayer sem o qual o sensor veria apenas a intensidade da luz que o atinge, portanto fotografaria a preto e branco. Seguindo o mesmo princípio, o Lumia 950 mede a tonalidade predominante e dispara o flash com o equilíbrio certo das três cores para produzir tons realistas e equilibrados.
Chegamos aqui ao domínio da implementação inteligente: quando temos a “captura avançada” ligada (ícone da varinha mágica abaixo do do flash), o Lumia 950 capta uma imagem com flash e outra sem flash. O resultado final é uma imagem que podemos ajustar em qualquer momento para equilibrar ambas imagens e obter o maior equilíbrio possível. O sistema só funciona verdadeiramente bem quando o objecto está estático, mas é possível obtermos imagens que só um olhar atento diria terem sido captadas com flash.
Este ajuste é possível “para sempre”. As imagens originais poderão ser alteradas em qualquer momento, salvando-se diferentes resultados finais.
Clip de imagens
Francamente preferimos o nome de imagens vivas, na tradução directa do inglês. Os clips de imagens são alguns segundos de vídeo capturados antes da imagem propriamente dita, o que cria uma espécie de percurso que nos mostra o que aconteceu no enquadramento até chegarmos à imagem final. O recurso existe em diversos dispositivos Lumia, mas agora permita uma partilha directa entre dispositivos com Windows 10 por se tratar de um único jpeg, não dois, como anteriormente.
Quando editamos estas imagens podemos optar por remover a animação, ficando com uma imagemm perfeitamente normal, mas ao partilhar com outros dispositivos que não possuem windows 10 teremos de optar entre as partilhar como vídeo, ou como imagem parada.
A maior inovação dos clips de imagens é, no entanto, que a câmara detecta se há movimento ou não na imagem e, nesse caso, obtém imagens estáticas normais. Claro que a firmeza da mão do fotógrafo é sempre um factor.
Na prática
Por trás de todas estas inovações está a parte invisível de qualquer câmara: o software. Para estas ideias funcionarem, qualquer câmara necessita ter excelentes algoritmos para controlar o ruído e aberrações cromáticas. Neste campo, a Microsoft cumpriu a sua missão de modo soberbo. as imagens obtidas pelo Lumia 950 impressionam em qualquer condição de luz.
Não é a primeira vez que dizemos de um telemóvel que é quando a luz baixa que o seu potencial se revela, e efectivamente é aqui onde uma grande massa de equipamentos com excelentes câmaras começa a perder o brio. No caso do Lumia 950, a combinação entre bons algoritmos de resolução de detalhe, um sensor de qualidade superior e excelentes ópticas parece permitir um excelente recorte aos detalhes, mesmo nas zonas de alto contraste onde frequentemente observamos fugas de luz e contaminação das zonas em torno das fontes luminosas. Este será, inquestionavelmente, um aspecto admirável na capacidade do Lumia 950 que terá poucos rivais para fotografia nocturna.
Comprovamos igualmente a eficácia da captura avançada quando utilizada em consonância com o flash, mas há um grande senão: quando os objectos não estão estáticos, produzem-se diferenças entre as diferentes imagens que se transformam em fantasmas quando ajustamos a luminosidade. Ou quando é o telemóvel que treme um pouco na mão, mas o autor está bastante confiante que a estabilização óptica remediará a maioria das situações, como é possível atestar nas imagens nocturnas que usamos como exemplo neste artigo. O resultado final pode ser bastante equilibrado, embora talvez proto-HDR se tivermos a mão pesada.
Já o flash tricolor faz exactamente o que diz a publicidade. As imagens saem com o tipo de tons naturais que seria difícil imaginar num smartphone. Compensar a temperatura fria de um flash é algo corrente na vida de qualquer fotógrafo, mas o Lumia 950 fá-lo de modo autónomo nas mais diversas situações de luminosidade, sejam lâmpadas de tungsténio ou fluorescentes.
E quanto à qualidade da imagem?
Fora tudo isto, quão detalhadas, nítidas ou refinadas são as imagens finais do Lumia 950?
As áreas problemáticas para qualquer sistema óptico são as zonas de elevado contraste, por exemplo o céu branco atrás de ramagens de uma árvore. O fringing pode ser horrível quando visto ao pormenor, desfigurando detalhes finos com franjas de cor lilás ou azul. As câmaras atenuam em boa parte o problema com bons algoritmos de tratamento dos jpeg, mas a qualidade das ópticas é indispensável para manter o problema sob controlo.
O nosso período com o Lumia 950 foi relativamente curto e pontuado por céus nublados que atenuam sempre os contrastes mais duros, por isso as nossas conclusões podem levar algumas reservas. Ainda assim, da análise que podemos fazer às arestas mais problemáticas, as bandas de cor estão extremamente bem controladas ao ponto de só aparecerem nos casos mais complicados ou quando analisadas ao pixel. Francamente, já se viram resultados piores em câmaras fotográficas avançadas, o que pode ser mais um testamento à qualidade das ópticas Zeiss.
Inquestionavelmente, outra área onde as ópticas menos conseguidas falham ferozmente é nos cantos. À medida que nos afastamos do centro, as distorções e franjas de cor acentuam-se, enquanto os detalhes tornam-se menos “recortados”. As imagens do Lumia 950 primam, no entanto, por grande homogeneidade. Sem dúvida que há um suavizar das imagens nas margens, mas tanto isto quanto as aberrações cromáticas passarão facilmente ao lado, excepto aos olhares mais obsessivos.
Portanto, de um modo global, o Lumia 950 produz imagens soberbas na esmagadora maioria das circunstâncias, e com detalhado e nitidez suficientes para deixarmos a câmara compacta em casa. Mas há ainda a questão dos ficheiros RAW. A maioria de nós poderá contentar-se com a naturalidade dos jpeg, mas os mais afoitos fotógrafos gostarão sem dúvida da possibilidade de ajustar as imagens em RAW para ultrapassarem aquelas situações onde nem o melhor sensor consegue criar o que procuramos.
Os ficheiros DNG têm efectivamente grande latitude, e salvam fotografias que, de outro modo estariam perdidas ou sem interesse. Por exemplo, a imagem é de má qualidade e estava marcada para eliminação. Procuramos preservar o céu, escurecendo o primeiro plano, e embora não tenha resultado, ilustra bem como com alguns minutos no Lightroom, um fotógrafo competente conseguirá verdadeiras transfigurações.
Conclusão
Uma combinação muito bem conseguida entre qualidade de componentes e implementação inteligente de algumas ideias interessantes, a câmara do Lumia 950 faz toda a justiça do mundo à herança de ícones como o Lumia 1020. Poderia dizer-se que, por este preço, bem que o poderia fazer, mas sabemos que não é assim: o resultado final é uma câmara ímpar na sua qualidade e com um grande equilíbrio de prestações, que se sai de modo surpreendente, mesmo em condições bastante difíceis.
Poderá não ter a maior resolução no mercado, nem o maior número de funcionalidades. Mas o seu equilíbrio torna-a realmente adaptável e, para os aficionados da fotografia, o Lumia 950 será um smartphone de eleição.
Isto não é dizer que gostamos de tudo. Quanto ao autor, a app propriamente dita ainda se encontra algo incompleta face ao que já foi no tempo da Nokia. Mas a Microsoft tem feito um esforço tremendo em conquistar terreno, e prova disso são pontos como a captura avançada. Seleccionar o ponto de foco pode ser mais complexo, com o 950 a ter um botão de disparo dedicado, mas não conseguimos utilizá-lo para focar com pressão até meio, pelo menos não na área de foco que queríamos. Todavia, diga-se de passagem que o foco é bastante razoável.
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