A Asus tem um historial invejável na criação de hardware e electrónica de elevada performance, mas no capítulo dos telemóveis tem optado por uma gama reduzida de produtos sólidos, ao invés do tipo de alinhamento diversificado que chega a confundir os potenciais compradores, que outras marcas favorecem. As razões pelas quais optamos por um ZenFone, e não por outro, são óbvias, as características de um ou de outro modelo claramente diferenciadas, sem truques nem manhas. Mas e porque optar por um ZenFone, em vez de por um telemóvel de outra marca? Ao fim de um mês a utilizarmos o ZenFone 2, tentaremos perceber porquê (ou porque não).
Características principais
O grande diferenciador do Asus ZenFone 2 é sem dúvida o seu processador Intel Atom Z3580 (2.3GHz) com PowerVR G6430. O processador, com arquitectura X86-64, pode ser comparado directamente ao Snapdragon 801, o qual parece superar na maioria dos benchmarks, ou ainda ao Snapdragon 805, com o qual compete de modo bastante próximo.O importante a reter é que, com 2,3GHz, o Atom deverá conferir ao Asus uma performance bastante interessante, em conjunto com os seus 4GB de RAM LDDR3.
Do lado do armazenamento, os 32GB são bastante confortáveis, ainda mais tendo em consideração a possibilidade de expansão por microSD.
Quanto ao ecrã, falamos de uma unidade FHD AMOLED de 5.5 polegadas, com botões capacitativos no painel, felizmente, em vez de teclas virtuais no ecrã.
A conectividade é, obviamente, 4G LTE, mas só para o primeiro SIM, relegando o segundo para operações máximas de 3G, ainda assim uma combinação muito comum no mercado actual, mas que irá desiludir muitos.
Desenho e construção
Podemos ter telemóveis de luxo com pormenores barrocos, ou baratos com uma construção menos que óptima. Pelo meio, encontramos os Asus, que são de grande sobriedade sem abdicarem de elegância. Como na geração anterior, o Asus ZenFone 2 é caracterizado pela capa traseira amovível de plástico texturizado, e sob a qual se escondem o altifalante traseiro, além das ranhuras para os cartões micro SIM e microSD.
O grande destaque vai para a nova tecla de volume (que duplica como obturador) na traseira do dispositivo, mesmo abaixo do módulo da câmara fotográfica e que acrescenta um toque de estilo à traseira minimialista. Desde modo, o único botão físico externo ao longo das margens do dispositivo é mesmo o de bloqueio do ecrã, no topo, e que não é particularmente responsivo, mas felizmente o Asus oferece-nos a possibilidade de bloqueio por toque duplo no ecrã.
Os restantes segredos do Asus estão então escondidos debaixo do capô, onde encontraremos as ranhuras para os cartões SIM e microSD.
Experiência de utilização
Ergonomia
Do ponto de vista ergonómico, o Asus Zenfone 2 é bastante sólido e confortável na mão, embora a sua espessura não seja totalmente adequada a mãos mais pequenas que não o conseguirão abarcar particularmente bem. A curvatura da traseira é fundamental para o segurarmos mais eficazmente, mas a laminação transversal do plástico torna-o algo propenso a escorregar lateralmente.
Mais uma vez temos de dar destaque ao “queixo” texturizado do ZenFone, que desde sempre nos parece excelente para repousar o polegar durante a visualização multimédia, com o bónus de nos permitir jogar alguns jogos sem toques espúrios no ecrã ou nas teclas virtuais.
Ecrã
A opção da Asus de colocar as teclas virtuais fora do espaço activo do ecrã é de saudar, pois dá-nos verdadeiras 5.5 polegadas, não um espaço truncado por uma inestética barra preta no fundo, como é a opção de imensos handsets. Assim, ao lado de outros dispositivos de dimensões idênticas, o Asus ZenFone 2 possui um maior ecrã efectivo e isso faz toda a diferença em termos de visualização, sendo sem dúvida um dos pontos altos do dispositivo.
O ecrã, de resto, tem boa reprodução de cores e contrastes, com pretos bastante profundos, mas como vem de origem reproduz bastante os amarelos, com os brancos demasiado alaranjados para gosto do autor. Felizmente, oferece-nos também uma capacidade bastante alargada para controlarmos as tonalidades e temperatura de cor, o que permite um ajuste fácil para todos os gostos.
Ainda no capítulo do ecrã, a luminosidade é bastante adequada, mas já experimentamos dispositivos mais capazes neste capítulo e, em condições exteriores, o ZenFone 2 poderia de facto ser mais brilhante. Um ponto de interesse é a implementação da Zen UI, que deixa sempre disponível uma grande área de branco na maioria das aplicações, onde outras interfaces criam margens carregadas que tornam o ecrã claustrofóbico. Por comparação a alguns concorrentes de medidas idênticas, o ZenFone 2 acaba por isso por ter um ecrã mais expansivo que agradará bastante.
Som
Do lado do som, temos uma experiência globalmente positiva, mas não impressionante.
O som de chamada é claro e com intensidade, mas o dispositivo fica muito aquém das expectativas no altifalante traseiro com um volume baixo, e pouca qualidade, um problema aumentado pela sua posição facilmente obscurecida. A história muda bastante com o som que obtemos do jack dos auscultadores, com volume razoavelmente elevado e nítido, ainda que pudesse ter mais força nas baixas frequências. Com auscultadores Sony MDR-100AAP, a experiência multimédia e de gaming em particular é bastante meritória, por isso o dispositivo beneficiará de bons auscultadores.
Algumas coisas podem ser feitas pelo áudio, graças à tradição da Asus nos dar bastantes apps com que configurarmos o smartphone, e o Assistente de Áudio permite optimizar o som conforme as nossas necessidades, além de possuirmos um equalizador relativamente completo na aplicação Músicas.
Facilidade de utilização
No campo da capacidade de resposta, o processador Intel e os 4GB de RAM mantêm o ZenFone bastante responsivo, mesmo quando temos bastantes aplicações abertas em simultâneo. De facto, o Asus ZenFone 2 tem uma capacidade brutal para encaixar apps na memória, como veremos no capítulo da performance, deixando outros equipamentos plantados, mesmo se mais caros.
O resultado é que a experiência de navegação e utilização das apps do dispositivo é bastante positiva, com resposta quase sempre pronta. A Zen UI, de resto, sempre agradou ao autor e é das mais fluídas e leves do mercado, sem por isso deixar de apresentar apps úteis e bem pensadas. As apps como a SuperNote, Músicas ou o Gestor de Arranque estão bem integradas e possuem grande utilidade, e esta é a impressão geral que temos sobre a globalidade daquilo que o Asus nos oferece. Por inerência do processador Intel, não há muitas ROM disponíveis para o ZenFone, mas como é seu apanágio a Asus oferece-nos amplas possibilidades de configurar a interface, o que lhe confere uma grande adaptabilidade, sem que tenhamos encontrado definições que comprometam o desempenho.
A Asus também inclui a tecnologia Zen Motion, que nos permite desenhar uma letra no ecrã desligado, para acedermos aplicações específicas. É uma funcionalidade que começa a surgir no mercado, e mais dispositivos deveriam de facto tê-la, sendo para já de lamentar apenas que não possamos realmente usá-la para um maior número de aplicações.
Nota negativa para os botões capacitativos, que não são iluminados e, portanto, possuem uma utilização bastante limitada com baixa luz.
Performance
Este é um daqueles capítulos onde a discussão ARM vs Intel nunca irá terminar, e onde os usuais benchmarks são em boa parte inúteis. Pelo menos quando levados em conta em bruto, em grande medida porque são núcleo-cêntricos e a pontuação penderá sempre para os octa-core, mesmo que um quad-core supere algumas das métricas.
A vantagem da Intel é ser um gigante no fabrico de chips, o que lhe permite refinar os seus dispositivos com grande autonomia e o que é um quantidade de recursos praticamente ilimitada. As grandes diferenças que possam dar vantagem aos processadores de arquitectura ARM têm sido por isso combatidas com grande eficácia por parte da Intel. Por exemplo, se a arquitectura ARM do comparável Snapdragon 805 permite núcleos de menores dimensões, a opção da Intel por um processo de 22nm em vez dos 28nm do 805, permitem-lhe conquistar terreno em termos de gastos energéticos.
As diferenças entre ambas as abordagens foram em tempos bastante notórias, mas ambas as implementações têm vantagens que os programadores podem explorar para performance superior e é nesse sentido que, actualmente, se torna extremamente difícil dizer com certeza qual é a arquitectura de maior vantagem: a implementação correcta pode anular as diferenças mais notórias.
Onde é que isto nos deixa? O Atom Z3580 tem uma performance bastante boa face à concorrência comparável, e o processamento é rápido, conferindo ao Asus ZenFone 2 uma experiência de utilização que esperaríamos de equipamentos bastante mais caros. As pontuações em benchmarks podem ser variáveis, mas o AnTuTu coloca o ZenFone2 em linha com equipamentos como o LG G4 ou o Motorola Moto X Style, bem colocados em classes de preço bem diferentes.
Na prática não sentimos limitações, até porque o smartphone mostrou uma impressionante capacidade para encaixar aplicações sem perda de dados. Com Dead Effect, N.O.V.A.3, Real Racing 3, e Assassin’s Creed – Pirates a correrem em simultâneo, podemos trocar entre jogos sem perder progressos nem jogabilidade, o mérito indo para os 4GB de RAM. Se ainda temos preocupações em relação à jogabilidade, os 19324 pontos no Ice Storm da 3DMark colocam o Asus muito perto de equipamentos como os Samsung Galaxy S6/Edge ouSony Xperia Z4, uma surpresa, tendo em conta as diferenças de segmento.
Se, profissionalmente, necessitarmos de multitasking, o ZenFone 2 poderá bem ser o líder de mercado neste capítulo. A ampla capacidade RAM garante que podemos manter activas em segundo plano tantas aplicações quanto precisarmos sem perder dados ou tempo a recarregá-las.
Este tipo de desempenho permitiu, de facto, que a fluidez da Zen UI se mantivesse em todas as condições de utilização, mostrando que com o Intel Atom e os 4GB de RAM, o ZenFone 2 tem imenso espaço de manobra e capacidade de aceleração para empalidecer as capacidades de equipamentos bastante mais caros de um modo que nenhum benchmark por si só consegue traduzir.
Câmara
Potencialmente a característica de um smartphone onde o autor mais gosta de ser agradado, a câmara do ZenFone 2 não desilude, embora haja melhorias a fazer. O mesmo que dissemos relativamente ao Zenfone 5 é aqui válido: a quantidade de funcionalidades que nos são trazidas de raiz é interessante, mas a sua criatividade é ainda mais importante. O nosso modo favorito é mesmo a remoção inteligente, que tira 5 imagens e permite remover objectos móveis que entretanto se tenham intrometido no enquadramento.
Outros modos interessantes são o modo de profundidade de campo que utiliza várias imagens para criar desfoques de fundo, ou o modo nocturno, que produz imagens de menor resolução (3MP) essencialmente porque combina as informações de vários pixéis para criar uma imagem final mais nítida e com menos ruído. Preferências aparte, o modo de super resolução permite-nos combinar imagens para criarmos imagens finais de 51MP, e com isto ganhamos francamente em nitidez e captação de detalhes, para uma performance soberba.
O único grande senão é que poucos progressos parecem ter sido feitos na melhoria de alguns algoritmos. Por exemplo, no modo de profundidade de campo, continuamos a não ter um bom recorte quando os objectos em foco têm contornos complexos.Ainda assim, a câmara do ZenFone 2 é aquilo que chamaríamos de “inspiradora”, e consegue resultados bastante convincentes que nos tornarão em fãs da fotografia móvel.
Para um controlo bastante mais pessoal do resultado final das imagens, o Asus ZenFone 2 também surpreende, permitindo-nos ajustar manualmente ISO e exposição, ou mudar o modo de fotometria para melhor controlarmos a luz, ainda que o interface não seja muito rápido ou intuitivo.
Naquilo que, em última instância, mais vale, a qualidade de imagem, os 13MP são bem-vindos face aos 8MP da geração anterior, e apesar dos sensores Toshiba ainda estarem algo atrás da capacidade dos sensores Sony em termos de gama dinâmica, os resultados finais são bastante equilibrados. Há uma tendência para queimar as altas luzes e, por defeito, o processamento feito às imagens pode deixar margens demasiado definidas nas zonas de grande contraste. Aqui é possível contornar o problema indo ao menu de configuração da câmara e ajustando a “optimização” manualmente para nitidez algo menor mas, na utilização quotidiana, procuramos simplesmente tirar o máximo proveito dos diversos modos de disparo para evitar as situações críticas, uma margem de manobra que nem todos os smartphones nos dão.
Posteriormente, o ZenFone trás um conjunto amplo de possibilidades de ajuste das imagens, o que aumenta o nosso controlo criativo e nos permite em boa parte prescindir de apps de terceiros para edição de imagem. Ainda assim, preferiríamos uma maior continuidade entre cada parâmetro alterado, já que a navegação significa a aplicação de cada alteração antes de passarmos à próxima. A ausência de suporte RAW é igualmente de lamentar, tendo em conta as capacidades da câmara.
Finalmente, a Asus tem já no mercado o ZenFlash, um flash externo de xénon que se aplica na traseira do ZenFone 2 com ventosas e com ligação à porta Micro USB. Utilizado em conjunto com a app ZenFlash Camera, o flash apresenta-nos algumas opções avançadas como a regulação de potência, o que agradará a fotógrafos mais avançados. As reais capacidades deste extra não é algo que tenhamos testado, no entanto.
Bateria
Um ponto algo agridoce do ZenFone é sem dúvida a sua bateria. Apesar dos seus 3000mAh, que se aguentam relativamente bem em jogos e outras aplicações, o web browsing parece ser algo penalizante para o dispositivo, por comparação por exemplo a dispositivos como o Huawei Mate S que tem uma bateria demasiado branda. Julgamos que poderá ser uma questão relacionada com o ecrã, que parece consumir quantidades apreciáveis de energia nestas funções, o outro lado da moeda de uma interface expansiva com grande área de ecrã?
Do lado inverso, a gestão de bateria da Asus sempre foi bastante razoável e permite-nos estender a vida útil de uma carga. Potencialmente mais interessante é que a tecnologia de carregamento rápido da Intel dá-nos 20% de sumo em 5 minutos, e da nossa experiência o ZenFone está totalmente carregado em hora e meia, um resultado francamente bom para 3000mAh.
Conclusão
É inegável que a Asus teve alguns passos arrojados na sua oferta de smartphones e a aposta em processadores Intel é sem dúvida uma delas. Em boa parte, a opção parece ter atingido a maturidade no ZenFone 2, onde a combinação Intel Atom Z3580 (2.3GHz) com 4GB de RAM se traduzem numa performance flagship que o preço do dispositivo e os benchmarks não traduzem de todo.
Se o Asus ZenFone 2 tivesse um exterior de metal e um perfil hiper fino, teríamos de lhe colocar uns €200 em cima e aí se calhar olharíamos de imediato para as especificações para pensarmos “este é de topo”. Assim, muitos poderão passar ao lado dos grandes argumentos que este smartphone apresenta por trás do seu design frugal e utilitário, onde pormenores como a tecla traseira e as teclas virtuais fora do ecrã são pequenos mas significativos. Debaixo do capô está o segredo para uma performance que não se consegue por menos de 500-600€ no mercado actual: o ZenFone 2 não é um Rolls repleto de cromados, é um Hot Rod com uma mecânica apurada. A facilidade com que encaixa jogos pesados e embarca em multi tasking sem vacilar envergonhará telemóveis mais caros, e isso não é dizer pouco.
Virtude também da sempre leve e minimalista ZenUI, as apps de raiz são muito bem concebidas e leves, contribuindo ainda mais para uma experiência de utilização bastante fluída, com uma gestão de bateria que é capaz de nos dar um dia inteiro de utilização, embora esperássemos algo mais, tendo em conta a sua potência. Em conjunto com um ecrã muito bem aproveitado, o ZenFone 2 é uma excelente ferramenta de produtividade, com fontes de boas dimensões, ou teclado fácil de utilizar sem dedos de bebé, onde compor e-mails, enviar mensagens ou aproveitar o Office é realmente fácil. Este é sem dúvida um telemóvel que tanto gamers quanto trabalhadores poderão adorar.
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