O 10 Year Challenge ganhou fama no Instagram nas últimas semanas e invadiu as redes sociais com montagens comparando fotos do presente com registros de dez anos atrás. Conhecida como #10YearChallenge (“Desafio dos dez anos”, em tradução livre), a brincadeira consistia em mostrar como a aparência dos usuários mudou de 2009 até 2019, e logo se espalhou para outras redes sociais, como Facebook e Twitter.
A febre também provocou um aumento de procura pelas fotos antigas do Orkut — que, aliás, não podem ser recuperadas depois do prazo. A moda do “antes e depois”, no entanto, foi além da nostalgia e da comparação de visual, levantando desde discussões sobre preservação do meio ambiente até teorias sobre inteligência artificial usada para reconhecimento facial.
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Sucesso do desafio
A popularidade do desafio foi tamanha que até esta segunda-feira (21) havia mais de 4 milhões de publicações no Instagram com a hashtag #10YearChallenge. Outras marcações, como #HowHardDidAgingHitYou (algo semelhante a "O quanto o envelhecimento afetou você"), #GlowUp (trocadilho com a expressão “grow up”, que significa “crescer”, e a palavra “glow”, que significa “brilho”) e #2009vs2019, foram usadas para descrever o mesmo desafio, totalizando mais de 2 milhões de registros.
O sucesso do desafio também resultou no aumento repentino da busca por "como recuperar fotos do Orkut", segundo dados do Google Trends. A rede social, que anunciou seu fim 30 de junho de 2014, estabeleceu um prazo de dois anos para que usuários recuperassem suas fotos antigas por meio da ferramenta Google Takeout. Ou seja, as pessoas tiveram até 2016 para salvar as imagens publicadas no Orkut — e quem perdeu o prazo não pode mais acessar o backup.
Como surgiu
A versão mais aceita para a origem da brincadeira é que ela teria sido inspirada na hashtag #ThrowbackThursday (ou TBT), utilizada pelos usuários para postar às quintas-feiras fotos de recordações. Outra explicação, no entanto, aponta que o 10 Year Challenge teria começado no Facebook, a partir de um post do meteorologista Damon Lane, da KOCO-TV, emissora afiliada à ABC (American Broadcasting Company).
Com o nome original de “How Hard Did Aging Hit You Challenge”, a proposta de Lane era que os usuários comparassem a primeira com a atual foto de perfil na rede social. Inspirados pela ideia do meteorologista, pessoas começaram a postar nos comentários fotos de dez anos atrás (2009) ao lado de fotos do presente (2019), dando origem ao desafio.
Quem participou
Além de usuários anônimos, celebridades nacionais e internacionais também aderiram à moda. Alguns famosos aproveitaram a brincadeira para mostrar como conseguiram manter a boa forma, como a atriz de Hollywood Viola Davis, o cantor Thiaguinho e a atriz Isis Valverde. Já a socialite e ex-atleta norte-americana Caitlyn Jenner e a atriz Maisa Silva, por exemplo, se valeram do 10 Year Challenge para ressaltar mudanças mais drásticas, como a transformação de gênero e a passagem da infância para a adolescência.
Não faltou bom humor nas publicações. O comediante e youtuber Whindersson Nunes explorou o contraste “expectativa versus realidade” a respeito de sua barba, enquanto a cantora norte-americana Mariah Carey postou duas fotos iguais para mostrar, em tom esportivo, que o envelhecimento não a atinge. Na indústria fonográfica nacional, a cantora Sandy brincou com a semelhança entre ela e a mãe e confundiu alguns seguidores.
Conscientização ambiental vira tema do desafio
Não demorou muito para que o 10 Year Challenge tomasse outro rumo, denunciando os prejuízos que a atividade humana tem causado ao meio ambiente, especialmente em de
"Apesar das minhas 700 plásticas que me fazem desacreditar nas fotos antigas, juro que esse é o desafio dos 10 anos que mais me chocam. Todo mundo se esforçando pra melhorar de vida e de aparência a cada dia. E nossa casa (a única que temos) só se degradando. Quanta destruição aconteceu em apenas 10 anos. Faz parecer que a Terra nem é tão grande assim. Vamos cuidar pra que em 10 anos este desafio nos impressione de maneira positiva. Cada um fazendo sua parte. Nosso planeta é nossa casa", escreveu Anitta na legenda da publicação.
Desafio perigoso?
A popularização do 10 Year Challenge também abriu espaço para outra discussão séria, desta vez envolvendo treinamento de inteligência artificial. Em artigo publicado no site da Revista Wired, a especialista em tecnologia Kate O’Neill defende que a brincadeira fornece uma ampla gama de informações ao Facebook, possibilitando treinar algoritmos de reconhecimento facial com base na progressão de idade.
O’Neill argumentou no artigo que "[O desafio] ajudaria [o Facebook] se você tivesse um conjunto simples limpo e rotulado de fotos de agora e de antes”. Isso acontece porque, apesar de a rede social dispor de um considerável banco de imagens dos usuários, comparar todas elas com base na data de publicação geraria muito ruído nas informações.
Além disso, mesmo que o Facebook usasse os metadados de fotografias (como localização geográfica, data de registro e outros) como fonte de informação, deve-se considerar que as pessoas não costumam postar fotos em ordem cronológica e as fotos de perfil podem ser não só retratos individuais, mas de família, animais ou paisagens. Há ainda o fato de que fotos antigas, por exemplo, podem ser escaneadas, fazendo com que o metadado não reflita a data de captura original.
Em resposta, o Facebook garantiu que não tem nenhum envolvimento com o desafio. "Esse é um meme criado por usuários que viralizou de forma espontânea. O Facebook não iniciou essa tendência, e o meme usa fotos que já existem no Facebook. O Facebook não ganha nada com esse meme”, atestou a rede social, ressaltando que os usuários podem ativar ou desativar o reconhecimento facial a qualquer momento.
Relembrando casos de jogos e testes que foram criados para extrair dados dos usuários e o escândalo da Cambridge Analytica, O’Neill reforça a importância de lidar com as informações pessoais de maneira responsável. “Independentemente da origem ou intenção por trás deste meme, todos devemos nos tornar mais informados sobre os dados que criamos e compartilhamos, o acesso que concedemos a eles e as implicações para seu uso”, alerta em artigo à revista Wired.
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