Por Lucas Carvalho
Moto Z é a linha de smartphones da Motorola dedicada a um conceito bem específico e um tanto controverso: modularidade. Os celulares que a empresa da Lenovo lança com a letra Z vêm com suporte aos Moto Snaps, conjunto de acessórios que se conectam ao aparelho por meio de ímãs.
Por causa disso, essa também é a linha mais cara da marca, e o Moto Z2 Force, mais recente aparelho com a última letra do alfabeto, é o top de linha da empresa no ano. Ou seja, trata-se do celular mais caro e mais cheio de recursos que a Motorola vende no Brasil.
O Moto Z2 Force ainda se destaca por vir com o que a fabricante chama de Shattershield, uma tecnologia que garante que a tela do aparelho é completamente à prova de trincos ou estilhaços. A empresa garante que o display sobrevive tranquilamente a quedas do dia a dia.
Mas será que o Moto Z2 Force é tudo isso? Até que ponto essa tela é resistente mesmo ou não passa de jogada de marketing? Quão poderoso é o smartphone "mais poderoso" da Lenovo no momento? Você encontra respostas para essas perguntas nos parágrafos abaixo.
Tela: inquebrável e imperfeita
A tecnologia Shattershield que a Motorola coloca no Moto Z2 Force deu as caras pela primeira vez em 2015, no Moto X Force. Como a fabricante explicou na época, trata-se de um conjunto de camadas de proteção minuciosamente arranjado para garantir resistência ao display.
No lugar do vidro que normalmente é a última camada da tela de um celular, o Moto Z2 Force tem uma fina camada de plástico. Isso torna o display mais flexível e capaz de absorver impactos do dia a dia sem estilhaçar ou apresentar rachaduras.
No Moto X Force, essa tecnologia funcionava de maneira surpreendente. No Moto Z2 Force, é um pouco decepcionante. Fizemos diversos testes de queda com o aparelho, de diversas alturas até o limite de 1,5 metro recomendado pela fabricante, tanto em superfícies de cerâmica quanto no asfalto.
O resultado? A tela resistiu bravamente, sem riscos, estilhaços, rachaduras ou qualquer dano interno, exatamente como a Motorola promete. Mas o resto... bem, veja como ficou o acabamento do aparelho nas fotos abaixo.
O Moto Z2 Force ficou bem feio logo após a primeira queda, ainda que a tela tenha resistido. Isso porque, ao contrário do que acontece no Moto X Force, a camada de plástico que cobre o display do Z2 não vai até o limite do painel. Essa camada parece mais uma película do que parte integrante do frame, o que é um pouco decepcionante.
O uso do plástico também deixa o celular mais propenso a riscos, acúmulo de poeira e sujeira de todo tipo e também é menos delicado no deslize dos dedos. Por outro lado, continua sendo um grande painel Super AMOLED de resolução Quad HD (1.440 x 2.560 pixels) e 5,5 polegadas. Ou seja, espere imagens bem nítidas e com cores vivas.
Resumindo: a tela do Moto Z2 Force é realmente resistente, mas peca no acabamento.
Performance: o que dizem os números
Processador Snapdragon 835, o top de linha da Qualcomm, com oito núcleo de 2,35 GHz; memória RAM de 6 GB; 64 GB de memória interna com suporte a cartão microSD de até 2 TB. Esta é a ficha técnica do smartphone, o que, para entusiastas de tecnologia, soa como a promessa de um celular super potente.
Mas números não importam muito se o conjunto não for suficientemente otimizado para tirar o melhor proveito possível dos componentes. E nesse quesito,
Para você que gosta de números, aí vão alguns: 172.525 pontos no app de análise de desempenho AnTuTu; e no Geekbench, 1.917 pontos de single-core e 6.675 de multi-core. Ou seja, performance digna de um top de linha de 2017. Enquanto isso, em termos de software, o Moto Z2 Force também merece elogios.
O aparelho vem com Android 7 Nougat de fábrica, mas deve receber a atualização para o Android 8 Oreo em breve. O sistema operacional não é mais tão puro quanto o que a Motorola constumava usar até alguns anos atrás, mas continua leve e com poucas alterações. O que mais se percebe são ícones modificados, mas não há apps pré-instalados além dos do Google.
A bateria, por sua vez, não é tão impressionante assim. O módulo tem apenas 2.730 mAh, o que, em tese, é pouco para um celular top de linha e com uma tela Quad HD de 5,5 polegadas. Só que na prática, o aparelho até que dura um bom dia inteiro longe da tomada, pelo menos em uso regular - isto é, cerca de quatro a cinco horas com a tela ligada, games e apps de streaming.
No uso intenso, você vai precisar carregar a bateria uma vez por dia, ou mais se não quiser ir mais abaixo do que os 30% de carga. Quem usa pouco, ou o deixa de lado durante o trabalho, por exemplo, não sentirá falta do carregador. Em resumo: uma bateria razoável.
Moto Snaps: ainda valem a pena?
O diferencial da linha Z, como comentamos logo acima, é o suporte a Moto Snaps, acessórios modulares que se conectam ao smartphone por meio de ímas. Todos os Snaps lançados em 2016 e 2017, para as duas gerações do Moto Z e Moto Z Play, funcionam no Moto Z2 Force.
Para o nosso teste, a Motorola enviou um Snap de bateria externa, que recarrega o smartphone sem fios quando você está longe de uma tomada. Assim como em qualquer outro modelo da linha, o acessório funciona de modo extremamente intuitivo e prático: é só acoplar e pronto.
O portfólio de acessórios ainda inclui um projetor, uma lente com zoom óptico para a câmera, uma caixa de som, um gamepad que atua como controle para jogos e uma câmera de 360 graus. Todos são compatíveis com o Moto Z2 Force ou qualquer outro smartphone da linha Z.
O problema desses acessórios, porém, continua sendo o mesmo: preço. O mais barato é o de bateria e custa R$ 399. Uma bateria externa comum, com mais capacidade e que carrega mais rápido, custa bem menos do que isso. Há Snaps que custam até R$ 1.499, que é praticamente o preço de outro celular.
Os módulos são interessantes, funcionam bem e trazem um ar de novidade ao Moto Z2 Force, além de serem bem mais práticos do que soluções mais tradicionais. Mas são caros demais e, até agora, injustificados.
Câmera: duas pelo benefício de uma
Outra grande atração do Moto Z2 Force, além da tela super resistente e os Snaps, é a câmera dupla, mais nova moda entre fabricantes de smartphone. O módulo traseiro tem dois sensores de 12 MP e abertura de f/2.0, sendo que um é monocromático e o outro é colorido. Juntos, os dois fazem alguns truques interessantes.
O mais óbvio é o "Modo Profundidade", que permite ao celular aplicar um efeito que deixa o plano de fundo da foto borrado, enquanto o primeiro plano fica em destaque. Depois, no momento de editar a foto, dá para fazer o contrário, e deixar o plano de fundo destacado e o primeiro borrado.
Outro recurso que a câmera dupla oferece é o modo "Preto e branco", que, como o nome já diz, usa apenas o sensor secundário para tirar fotos em tons de cinza. Também nas configurações, dá para deixar apenas um dos dois planos da foto em tons de cinza, e o restante colorido.
Na prática, porém, esses recursos repetem o erro da "tela inquebrável": são mal acabados. O modo profundidade nem sempre separa bem o que está em primeiro plano do que está no fundo, deixando, muitas vzes, um aspecto artificial que deixa a foto parecendo o resultado de um Photoshop preguiçoso.
Na comparação com outros celulares que fazem isso no Brasil - mais precisamente o iPhone 7 Plus e o Galaxy Note 8 - o Moto Z2 Force deixa muito a desejar no quesito "modo profundidade". Só é importante lembrar que estamos falando de um aparelho quase R$ 2.000 mais barato, então dá para perdoar o deslize.
Deixando de lado os truques de software, a câmera do Moto Z2 Force é competente e só. Não chega perto de outros tops de linha do mercado, como o iPhone 7 ou o Galaxy S8, mas, novamente, por ser um celular bem mais barato, dá para perdoar se as fotos não são perfeitas.
Muitas vezes o celular perde a mão no balanço de branco e no alcance dinâmico. Mas, num geral, faz fotos decentes para serem postadas em redes sociais. Em situações de pouca luz, especialmente por conta do sensor secundário que fotografa em tons de cinza, a quantidade de ruído é mínima. Fotos noturnas ou em ambientes escuros não são um problema para ele. A câmera frontal de 5 MP e ângulo aberto captura uma área maior que o normal, o que é bem-vindo, mas, em termos de qualidade, não impressiona.
Veja algumas das imagens que fizemos com o Moto Z2 Force:
Design: cadê a entrada para fones?
Por fora, há pouco o que elogiar no Moto Z2 Force. Para manter a compatibilidade com os Snaps do ano passado, o celular teve de repetir o padrão do ano passado, o que inclui uma tela de 5,5 polegadas e bordas enormes nas laterais e, principalmente, na parte inferior do display. Tudo isso deixar o aparelho com um visual bem ultrapassado, especialmente se o colocarmos lado a lado com outros tops de linha Android, como o Galaxy S8 e o LG G6 e suas bordas mínimas.
A câmera saltada na parte de trás continua difícil de entender e muito menos de defender. Parecia uma decisão ousada no ano passado, mas, agora, parece mais um erro do que qualquer outra coisa. Há quem diga que o formato permite que os Snaps se encaixem melhor na traseira. Mas mesmo assim, acorrentar o design do celular à proposta dos acessórios não parece a melhor decisão.
Além de tudo isso, há a infeliz decisão de remover a entrada para fones de ouvido. O Moto Z2 Force é hoje o único top de linha Android vendido no Brasil que embarcou na moda do iPhone 7 e retirou a porta de 3,5 milímetros. Para usar fones com o celular, você precisa de um adaptador que os encaixe à porta USB-C. Ou seja, acostume-se a viver com um adaptador por perto e nunca poder ouvir música enquanto carrega o celular na tomada.
Por outro lado, o Moto Z2 Force é surpreendentemente fino, com apenas 5,99 milímetros de espessura (sem contar a área da câmera) e pesando só 143 gramas. Há ainda um leitor de impressões digitais na parte frontal que, além de desbloquear o celular com um toque e funcionar rapidamente, serve também para substituir os botões de navegação virtuais e ganhar espaço na tela. Mas como em outros celulares da Motorola, esse recurso é confuso e muito pouco intuitivo.
Por fim, vale lembrar que, apesar da tela "inquebrável", o Moto Z2 Force não tem resistência à água como qualquer outro concorrente. Além disso, há apenas um alto-falante, apontado para a frente, que não é dos mais altos e nem oferece qualquer sensação de imersão, já que ele é único. A aparência e a construção externa do Moto Z2 Force poderiam ser melhores e são certamente os pontos mais baixos do smartphone.
Conclusão: feio, forte e formal
No ano passado, o nosso review do Moto Z de primeira geração dizia que aquele era o celular mais inovador do mercado até então. Não era o melhor de todos, tinha sérios pontos fracos, mas, mesmo assim, trazia ideias novas e corajosas para um mercado há muito tempo sem qualquer inovação significativa. E tudo isso por um preço competitivo.
Neste ano, porém, o Moto Z2 Force é tudo, menos inovador. O design é ultrapassado, as funções exclusivas não são novidade e nem funcionam tão bem quanto funcionaram no passado. A insistência nos Moto Snaps parece injustificada, já que a ideia não foi seguida por mais ninguém na indústria, além de deixar o smartphone acorrentado ao passado.
Por outro lado, o Moto Z2 Force cumpre a promessa de vir com uma tela à prova de rachaduras. Além disso, o processador de última geração e os 6 GB de RAM oferecem uma performance muito acima da média, apoiados num sistema operacional livre de modificações pesadas e sem qualquer aplicativo inútil pré-instalado. O aparelho é um exemplo de desempenho top de linha.
Enquanto isso, a bateria não é das melhores, e nem a câmera, apesar de ser dupla. Ambos os componentes são apenas razoáveis. Mas numa rápida pesquisa pela web, é possível encontrá-lo à venda por até R$ 3.000, o que é um preço surpreendentemente baixo considerando as especificações de alto nível.
É praticamente impossível encontrar um smartphone mais poderoso que o Moto Z2 Force sendo vendido oficialmente no Brasil e por um preço abaixo dos R$ 3.000, o que faz deste um caso raro de bom custo-benefício na categoria dos tops de linha. Por outro lado, ele deixa muito a desejar em alguns aspectos em que a Samsung ou a Asus trazem resultados melhores.
O Moto Z2 Force é para quem dá mais valor à função do que à forma, presa por desempenho e preço acessível acima de qualquer coisa. Se você não quer a melhor câmera, a melhor bateria ou o melhor design, mas se empolga com o melhor processador e o melhor desempenho, este celular é para você.
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