O "efeito Streisand" ocorre quando alguém tenta remover ou censurar um tipo de conteúdo e, ao fazê-lo, atrai grande atenção para o assunto em questão. O caso mais recente do fenômeno, que é especialmente comum entre famosos, envolve a apresentadora Ellen DeGeneres. Nesta semana, a assessoria da celebridade ordenou a retirada de um vídeo que projeta imagens da guerra do Iraque ao fundo de DeGeneres para satirizar um discurso em que ela defende sua amizade com o ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush. A ação, contudo, só fez o clipe ficar ainda mais popular.

Dados do Google Trends, ferramenta que monitora pesquisas na Internet, mostram que houve um aumento repentino nas buscas pelos termos que relacionam os nomes da apresentadora e do ex-presidente norte-americano. O pico de procura ocorreu na última terça-feira (8), quando o ativista político Rafael Shimunov postou o vídeo editado no Twitter. Embora o conteúdo tenha sido removido no dia seguinte por violação de direitos autorais após uma denúncia feita pela equipe do programa de DeGeneres, o clipe foi repostado por outras contas e está online no YouTube — até a publicação desta matéria. Veja a seguir o que é efeito Streisand e casos do tipo no Brasil.

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Origem da expressão

A origem do termo está relacionada a uma polêmica judicial envolvendo a cantora e atriz norte-americana Barbra Streisand. Em 2003, ela processou o fotógrafo amador Kenneth Adelman, sob a acusação de que ele havia violado sua privacidade ao postar nas redes uma foto de sua mansão, na Califórnia.

A imagem fazia parte de um grupo de cerca de 12 mil fotos aéreas que o profissional tinha carregado em um site no qual documentava a costa californiana. Ainda assim, Streisand pediu uma indenização de US$ 10 milhões. O pedido, porém, foi negado pelo juiz titular do caso. O magistrado determinou, ainda, que a cantora deveria pagar os US$ 177 mil que o fotógrafo gastou com advogados durante a batalha judicial.

Segundo documentos anexados ao processo, a foto havia sido acessada apenas seis vezes durante a ação legal. Após a repercussão do caso, porém, a imagem viralizou: o site de Adelman recebeu 420 mil visitas só em abril de 2003. Dois anos depois, o fundador do blog TechDirt, Mike Masnick, cunhou o termo "efeito Streisand".

Efeito Streisand no Brasil

No Brasil, um dos casos mais famosos do efeito Streisand envolve uma extensa batalha judicial travada entre a apresentadora Xuxa e o Google. Na ação, que foi aberta em 2010 e tramitou até 2018, ela tentou remover das buscas termos que relacionassem seu nome à palavra pedofilia e derivadas, como "Xuxa pedófila", além de fotos em que aparece nua no filme erótico "Amor, Estranho Amor" (1982). No longa, Xuxa interpreta uma garota de programa e contracena com um menino de 12 anos.

Em 2013, a rainha dos baixinhos venceu na Justiça a Cinearte Produções e impediu a distribuidora de relançar o filme. Já na batalha contra o Google, o resultado não foi favorável à apresentadora. Em 2018, a Justiça negou o último recurso apresentado por Xuxa. O processo foi julgado em segunda instância, e a celebridade não terá mais como recorrer.

Outra ocorrência marcante do efeito Streisand no Brasil é o vazamento de fotos íntimas da atriz Carolina Dieckmann, em maio de 2012. Hackers invadiram o e-mail pessoal da artista e, após tentativas de extorqui-la, publicaram na Internet 36 imagens pessoais, incluindo cliques em que ela aparece nua e fotografias do filho de Dieckmann. Os dois sites que hospedaram os conteúdos foram contatados pelo advogado da atriz e logo retiraram os materiais do ar.

Em dezembro

... do mesmo ano, foi sancionada a lei 12.737, que criminaliza a invasão de aparelhos eletrônicos para obtenção de dados particulares, bem como a divulgação e comercialização dessas informações. A alteração do código penal foi apelidada de "Lei Carolina Dieckmann", em alusão ao caso envolvendo a atriz, e está em vigor desde abril de 2013.

Recentemente, a censura do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, à HQ "Vingadores: a Cruzada das Crianças", de 2010, que estava à venda na Bienal do Livro de 2019, gerou uma polêmica tão grande que o livro se esgotou em tempo recorde no evento.

Em 5 de setembro, Crivella postou um vídeo nas redes sociais afirmando ter determinado aos organizadores da Bienal que recolhessem os exemplares da HQ. O livro contém a imagem de um beijo entre dois personagens masculinos e, segundo o prefeito, é impróprio para menores. No dia seguinte (6), a organização da feira afirmou que, às 9h39, já não havia mais unidades do romance gráfico.

Em resposta à ação de Crivella, o youtuber Felipe Neto comprou todo o estoque de livros com temática LGBT disponíveis na Bienal e distribuiu gratuitamente entre os participantes do evento em 7 de setembro. Ao todo, foram entregues mais de 14 mil exemplares.

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