A atuação da Uber no Brasil virou alvo de críticas na imprensa internacional. Um artigo publicado pelo Business Insider, com dados do The New York Times, acusa a empresa de ter usado "requisitos frouxos de identificação", ocasionando a morte de, no mínimo, 16 motoristas que aceitaram corridas com pagamento em dinheiro. Segundo a publicação, um método mais avançado de verificação de identidade dos passageiros demorou a chegar, mesmo com o aumento da violência.
A reportagem afirma o número foi descoberto pelo repórter Mike Isaac, do The New York Times, para um livro que será lançado sobre o assunto. Em sua pesquisa, Isaac pondera que, além de um número de telefone ou e-mail, a Uber, até pouco tempo, não exigia nenhuma verificação de identidade dos passageiros. Por isso, qualquer pessoa poderia criar uma conta para chamar um carro.
O artigo do Business Insider diz ainda que, diante das falhas de segurança evidentes, criminosos no Brasil jogavam "Roleta Uber", procurando por um motorista que aceitasse pagamento em dinheiro para praticar crimes. Já o The New York Times escreveu que, mesmo com o aumento da violência, a Uber manteve por um longo período a política de pedir poucos dados para que um passageiro se cadastrasse na plataforma.
Ao TechTudo, o motorista Evaldo Neto contou acreditar que a Uber ainda deixa a desejar na garantia de segurança e suporte aos motoristas. Ele não sente medo de pegar corridas pagas em dinheiro, mas o temor de sofrer algum tipo de violência no trabalho existe. "No Rio de Janeiro há áreas ocupadas por grupos criminosos, que oferecem um risco maior à segurança de todos. Nessas áreas e nas suas redondezas é impossível não sentir medo, sobretudo à noite e principalmente durante a madrugada", conta.
Outra motorista, que não quis se identificar, contou que costuma pegar as corridas pagas em dinheiro, mas que, antes, checa a nota do passageiro no app. "Pessoas mal intencionadas geralmente fraudam uma conta pra solicitar. Logo, a nota é 5 estrelas. Quase sempre aceito, mas prestando bastante atenção no local da solicitação", revela.
Ela também sente medo de transitar por áreas consideradas de risco. "Acho importante a funcionalidade de compartilhamento de viagens, mas, pra que o motorista possa se resguardar de locais perigosos, penso que a Uber poderia liberar a informação do destino no ato da aceitação de uma solicitação", sugere.
Passageiros também relatam medo
Mas não são apenas os motoristas que temem pela própria segurança dentro do Uber. Passageiros também contam casos problemáticos envolvendo o app. Uma vítima, que não quis se identificar, disse que, no final do ano passado, solicitou uma corrida às 22h. Como já estava acostumada a fazer o mesmo caminho todos os dias, percebeu quando o motorista mudou a rota. Ela avisou e disse que poderia guiá-lo, mas notou que o homem desconversou e seguiu dando voltas para despistá-la, entrando em favelas.
Uma hora depois do início da corrida, o motorista parou em uma área totalmente deserta. "Eu já estava no milésimo pedido para sair do carro. Aí ele disse: 'Agora a gente faz o que?'. Estava se insinuando pra mim, com as pernas abertas e se aproximando fisicamente", lembra.
A vítima estava sem sinal de celular, sem rede e atordoada. Ela, então, mentiu dizendo que o namorado morava do outro lado da rua. Foi só aí que o motorista destravou a porta. Ao sair do carro, encontrou um grupo e contou o que tinha acontecido. "Eles me botaram em um carro da 99 para o meu destino inicial", conta. Ela tentou prestar queixa na delegacia, mas foi desencorajada pelos policiais. Foi então que entrou em contato com a Uber, que devolveu o valor da corri
Outro caso aconteceu com uma mulher, que também preferiu não se identificar. Ela conta que estava fazendo um trajeto rápido, nas primeiras horas da manhã, em uma cidade que não conhecia muito bem. "Eu deveria fazer em cinco minutos no máximo porque naquela hora não tinha ninguém na rua. Aí o motorista começou a me elogiar, falar do meu perfume e do meu sotaque", conta.
Ela diz que o homem andava muito lentamente pela rua e que pediu para que ele fosse mais rápido. "Ele ficava me perguntando: 'Por que? Vamos passear. Eu não posso ir mais rápido que isso, está trânsito'. Mas não tinha um carro na frente e estava tudo um breu", relata.
A vítima começou a ficar nervosa e notou que o motorista insinuava que iria encostar o carro em uma área com diversos motéis. Ela o confrontou, mas o homem seguia a convidando para passear, alegando que o trajeto era muito rápido e que estaria cedo. Foi então que a mulher pegou o telefone e fingiu ligar para o namorado.
Ela simulou uma conversa, fingindo que o rapaz estaria esperando por ela no aeroporto. "Eu dizia que o motorista estava demorando para me deixar no destino e que achava que o carro estava com algum problema, por isso eu iria atrasar. Quando eu fiz isso, ele finalmente me deixou no aeroporto. Mas parou, encostou o carro e ficou me olhando", lembra.
A vítima relatou o ocorrido para a Uber ainda na fila do aeroporto e recebeu uma ligação poucos minutos depois. O motorista, porém, não foi expulso da plataforma. "Eles disseram que iam bloquear para que eu nunca mais cruzasse com ele, o que também não seria fácil, já que eu estava em outra cidade. Mas eles bloquearam, me devolveram o valor da corrida e eu virei Uber VIP", conta.
Uber não se posiciona
O TechTudo entrou em contato com a Uber para saber o número de motoristas e passageiros que já foram assassinados em serviço ou utilizando o app. Também questionamos quais medidas a empresa toma para evitar problemas com a segurança dos usuários e profissionais. Até o fechamento desta matéria, a Uber não se manifestou.
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