A morte da YouTuber Emily Hartridge na última sexta-feira, 12/07, reacendeu nas redes sociais a polêmica questão da segurança das patinetes elétricas como meio de transporte alternativo. Até o momento, poucos casos fatais ganharam repercussão, mas especialistas alertam para os riscos da alta velocidade e do não uso do capacete.

O ortopedista do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO), Leonardo Rocha, lembra que veículos sob duas rodas, como bicicletas, motos e patinetes, deixam seus condutores mais vulneráveis. Isso porque, diferente do carro, não há proteção para o caso de um impacto repentino. E, quando a velocidade entra na equação, uma batida pode ser fatal.

Em uma explicação física, quanto maior a combinação entre o peso e a velocidade, mais grave pode ser o acidente. E é aí que mora o perigo. Entre os veículos de duas rodas, a patinete é a mais vulnerável, de acordo com o médico. “A patinete conseguiu uma velocidade surpreendente. Tem casos, em média, que eles avisam que pode chegar a 30km/h. Essa velocidade é significante para causar um dano grave ao crânio. Então o risco maior é o do traumatismo craniano encefálico”, alerta.

Porém, Leonardo destaca que o tipo de capacete também influencia no nível de segurança que o usuário do transporte terá. "Todo mundo acha que só proteger a calota craniana é o suficiente. Só que também existe muito trauma facial. Quando se é arremessado para frente, se não tiver tempo de reação para se proteger com o membro superior (braço ou mão) você fica vulnerável na face”, explica.

Isso significa dizer que apenas usar a proteção parcial, deixando o rosto exposto, pode não ser suficiente. “Só o capacete para a calota craniana, não protege completamente. Mas, pelo menos, dos danos mais graves e potencialmente letais, você está protegido”, explica.

Contudo, para muito além do capacete, a velocidade aplicada à patinete elétrica também preocupa. Leonardo explica que, caso a queda seja lateral, a coluna cervical fica exposta a riscos de lesão. "Todo esse problema se dá pela velocidade que se consegue com a patinete. São lesões com potencial até fatal. A gravidade da lesão não é, necessariamente, só pelo não uso do capacete. Tem também a regulamentação que é necessária para essa velocidade, dependendo de onde ande o usuário”, defende.

No Brasil e no mundo a regulamentação do uso da patinete elétrica caminha a passos lentos. Por aqui, alguns Projetos de Lei têm sido apresentados para, entre outras medidas, tornar obrigatório o uso de capacetes. Ainda assim, a questão não parece avançar. Na Europa e nos Estados Unidos, foram registrados acidentes fatais, o que acalorou os debates.

Relembre casos

A YouTuber Emily Hartridge tinha 35 anos e era conhecida por falar em seu canal sobre exercícios físicos e vida saudável. A jovem, que chegou a apresentar programas de entrevistas em uma rede de TV inglesa, bateu de frente com um caminhão enquanto passeava em uma patinete elétrica na sexta-feira. Ela foi a primeira vítima fatal deste tipo de acidente no país e sua morte foi anunciada aos fãs em um post no Instagram.

No Brasil, a morte da YouTuber foi lamentada pela deputada do Partido Social Democrático (PSD), Rosane Felix, que também se envolveu em um acidente no começo de maio. Após o episódio, ela apresentou à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) um Projeto de Lei (PL) obrigando o uso do capacete.

A proposta, porém, foi negada pelo governador do estado, Wilson Witzel. Sobre a morte de Emily, Rosane declarou: “É muito triste e eu torço de verdade para que isso não aconteça no nosso estado. O acidente dela foi fatal, ela não teve a chance que eu tive de ter só que trocar o dente. Infelizmente”.

A política es

... tava em Copacabana, no Rio de Janeiro, quando decidiu experimentar a patinete elétrica. "A facilidade me chamou a atenção. Você só coloca o cartão de crédito e anda. Aí eu andei a primeira vez. No finalzinho, decidi andar de novo. Nesta segunda vez fui desviar de um rapaz que vinha na minha direção, desequilibrei e caí de frente”, lembra.

Segundo a deputada, não houve tempo de usar os braços para proteger a face, o que levou à uma queda brusca. “Perdi meus três dentes da frente: Dois caíram na hora, inteiros, e o outro acabou soltando depois. Poderia ter tido um traumatismo craniano, poderia ter sido muito pior”, conta Rosane. No PL vetado ela propôs que as empresas que oferecem o serviço de patinete elétrica deveriam, também, ceder o capacete. "Não ficaria caro para a empresa, até porque o serviço que eles oferecem já é caro”, defende.

Em fevereiro deste ano, outros dois casos foram registrados em São Paulo. Em um deles, a condutora caiu e, no outro, um pedestre quase foi atropelado. Nas duas ocasiões, pessoas se machucaram e o seguro precisou ser acionado.

Três meses depois, em Vitória, uma jovem de 19 anos precisou ficar internada após cair ao tentar se desviar de um bueiro com a patinete elétrica. O primeiro atendimento rendeu alguns pontos no queixo, mas, depois de receber alta, ela precisou voltar ao hospital por continuar se sentindo mal e foi diagnosticada com uma hemorragia na região da cabeça. Ela não usava capacete.

No ano passado, em setembro, um homem que andava de patinete elétrica pelas ruas da Dallas, nos Estados Unidos, também se acidentou e morreu. Segundo médicos, traumas cerebrais seriam a causa do óbito. A queda foi tão brusca que a patinete se quebrou ao meio e o rapaz foi encontrado muito distante do transporte, o que significa que foi bruscamente arremessado.

Outro caso fatal aconteceu no mês passado, em Paris. Um rapaz de 25 anos colidiu contra um caminhão após desobedecer a sinalização da via. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu.



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