Red Dead Redemption 2 é a continuação de um dos games mais aclamados de todos os tempos. Disponível a partir do dia 26 de outubro para PS4 e Xbox One, o título da Rockstar (famosa produtora de GTA 5 e Bully) coloca os jogadores na pele de Arthur Morgan, um fora da lei que precisa se reerguer junto de sua gangue e sobreviver no coração dos Velho Oeste americano. Será que toda essa expectativa foi atendida? Confira o review completo:
Não é um GTA no Velho Oeste!
Muitos, e eu posso me incluir nesse grupo, costumam resumir Red Dead Redemption em uma frase: É um GTA no Velho Oeste!. Alguns pelo fato de ambos os jogos serem desenvolvidos pela Rockstar, outros para explicar um sistema de mundo aberto que, na época em que o primeiro game foi desenvolvido, ainda tinha GTA como a grande referência no gênero.
A verdade é que ambos sempre foram muito distintos, principalmente em relação ao seu enredo. GTA sempre trouxe atividades e missões polêmicas dos dias atuais em sua história, como no quinto título da franquia, no qual há missões para destruir empresas que mantém o monopólio de redes sociais, em uma nítida paródia ao Facebook. Já Red Dead trazia um enredo mais sério em que mesmo tendo um fora da lei como protagonista, sempre colocava o jogador em questões mais sérias. Afinal, quem não lembra o final clássico do primeiro game?
Red Dead Redemption 2 coloca um ponto final no assunto e prova que, embora filhos da mesma mãe, as duas franquias têm muitas diferenças. Seja pelo enredo, pela forma como você imerge no jogo, e até mesmo pela jogabilidade que, embora beba da mesma fonte, tem inúmeras particularidades.
Vida de Fora da Lei
O enredo do game funciona como um prequel do primeiro jogo. Novamente você assume o controle de um fora da lei. Dessa vez é Arthur Morgan, um dos membros mais antigos e fiéis do bando que, após um assalto frustrado em uma cidade do oeste chamada Blackwater, precisa se refugiar no coração dos Estados Unidos junto a seu aliados para fugirem as autoridades e se reerguerem novamente.
Durante toda a história, vemos o comprometimento de Arthur junto ao seu grupo. Desde o início em que o bando precisa agir sempre junto para realizar roubos, resgates e outras atividades, até no desenrolar final cujo relacionamento já não anda a mil maravilhas. O interessante é que tudo isso se constrói diante de atitudes do próprio protagonista, no qual eu falarei mais adiante.
Para completar, há algumas boas referências ao primeiro jogo. Mesmo ele se passando após os acontecimento de Red Dead 2, é interessante revisitar algumas cidades e ter uma noção de como se iniciou muita coisa do capítulo anterior. Além é claro de acompanhar mais um pouco da hist
Uma imersão nunca antes vista com um fator replay raro
A proposta da Rockstar para Red Dead Redemption 2 sempre foi imergir o jogador no game de uma forma nunca vista antes. Para isso, a maneira com que boa parte das atividades são inseridas no jogo fazem com que sejam muito mais uma rotina diária do que tarefas que podem simplesmente serem deixadas de lado.
Para ser mais específico, o seu dia a dia no mundo de Red Dead 2 não se resume apenas a escolher e completar missões, mas resolver uma série de tarefas, como problemas da vida normal. Em um determinado momento do jogo, Arthur retornou depois de uma longa caçada, e um simples diálogo com um refém fez com que aquilo se tornasse uma nova missão para ser resolvida por sua gangue. Ou no momento em que uma simples ida à cidade se tornou uma aventura de resgate de uma donzela em apuros na floresta.
Claro que isso sempre depende muito das suas atitudes. Essas que também estão presentes no jogo de uma maneira muito bem inserida. Praticamente todas as missões, principais ou não, seguem um fluxo de decisões a serem tomadas. Por exemplo, durante um assalto a um banco, você pode ordenar que seus capangas tomem determinadas atitudes, ou simplesmente escolher ficar a frente da ação você mesmo. Não sei se a intenção da Rockstar foi essa, mas eu me senti tentado a repetir boa parte delas simplesmente para saber o que aconteceria caso eu tivesse tomado alguma atitude mais enérgica ou totalmente diferente da que eu optei.
E tudo isso contribui para formar o caráter de Arthur Morgan. Eu fui cauteloso e moldei um personagem que é uma espécie de fora da lei com bom senso. O meu protagonista cumprimenta as pessoas, perdoa traiçoeiros, toma sempre as decisões mais justas, e, consequentemente, foram raras as vezes que precisei evitar uma cidade por conta de meus atos. Mas ao mesmo tempo senti muita curiosidade em ter um personagem mais severo e temido que, embora procurado boa parte do tempo, os inimigos evitem e o seu bando o idolatra. Mais uma prova de que, embora gigantesco, Red Dead Redemption 2 instiga o fator replay, basta ter (muito) tempo de encarar tudo novamente.
Um mapa gigantesco e repleto de atividades
A cada dia percebo que os jogos de mundo aberto ampliam cada vez mais as suas regiões. Games como Just Cause 3, Far Cry 5 e Ghost Recon Wildlands trazem milhares de quilômetros virtuais à disposição para horas e horas de exploração, mas nenhum deles chega perto do que a Rockstar fez com RDR2.
À medida que o enredo avança, o enorme mapa começa a ser revelado, mesmo que nos primeiros momentos já seja possível deslizar por ele totalmente encoberto e ter uma noção da grandiosidade. A forma com que ele é explorado faz com que você perceba a sua amplitude. A começar pelos trajetos, pois não há carros, lanchas ou aeronaves que batem os 300km/h, apenas os 'pocotós' que, mesmo os mais rápidos, não passam de 50 km/h.
Dessa forma, você é obrigado a visitar e revisitar áreas que em outros games, facilmente poderiam ser superadas. E se não bastasse, ainda sobre o quesito interação descrito acima, praticamente a todo momento surgem pessoas procurando ajuda, inimigos atrás de você, animais para serem caçados, e uma série de atividades paralelas que acabam consumindo mais tempo do que sua viagem levaria. E acreditem, dificilmente você conseguirá deixar para trás esses eventos com a oportunidade batendo a porta.
O que facilita um pouco são as famosas Viagens Rápidas, quase que um item obrigatório em todos os jogos de mundo aberto. Porém, elas não caem de mão beijada em Red Dead 2. É preciso cavalgar muito os EUA afora até alcançar um determinado ponto no jogo em que elas finalmente permitam retornar ao seu acampamento instantaneamente.
Mais que uma gangue... uma família!
Red Dead Redemption 2 não é um game que obriga o jogador a ser um cavaleiro solitário. Pelo contrário, praticamente a todo momento você precisa conviver (ou aprender a conviver) em bando, realizando tarefas em prol do bem estar de todos e da boa convivência.
Embora o jogo não obrigue essas atividades, você pode agir em busca de melhorias para a sua gangue. É possível doar itens roubados, dinheiro em espécie e itens raros para melhorar o ambiente onde todos vivem. Por exemplo, após eliminar um cervo, Arthur pode levar sua carne para encher a barriga de seus companheiros e usar o crânio do animal como um troféu para decorar a entrada da localidade.
Mas não é só de uma forma estética que essas melhorias auxiliam no jogo. Eu procurei melhorar ao máximo meus recursos compartilhados logo no início da história. Os frutos foram colhidos bem mais à frente, quando os combates eram mais frequentes e as minhas balas acabavam rapidamente. A todo momento eu tinha uma boa reserva para me recarregar e encarar os malfeitores que insistiam me pegar de surpresa.
Há também algumas curiosidades, como a forma com que Arthur interage com seus aliados. Em determinado momento, levei um bom tempo para cumprir uma missão de resgate de um dos companheiros que acabou sendo capturado. Acabei levando uma bela bronca de Dutch, me enquadrando pela demora em cumprir o objetivo. Ou a forma com que Leopold me cumprimentava sempre com um bom humor, também pudera pela quantidade de gente no qual fui cobrar os atrasos pelo pagamento de seus empréstimo.
Para completar, ao longo de uma missão estressante você também pode relaxar e jogar uma partida de dominó ou pôquer com seus aliados. A forma com que eles reagem pós partidas é hilária. Enquanto tive que conviver com a irritação de companheiros que tomaram uma lavada , tive que aguentar as provocações quando perdi como um patinho para os mesmos.
Habilidades e Olhos da Morte/Águia
A jogabilidade de Red Dead Redemption 2 também é muito voltada ao conceito de imersão no qual a Rockstar insiste em propagar no jogo. Isso fica claro com a forma com que você precisa cuidar com seus status e com a sua evolução. O primeiro conceito diz respeito a forma com que você precisa sempre se manter alimentado e se protege do calor/frio para não perder energia mais facilmente. Para isso, é preciso ter sempre alimentos (de preferência não perecíveis), e ficar de olho na temperatura ambiente para saber qual roupa usar.
Essa energia também precisa ser balanceada em relação ao tempo em que você emenda missões e atividades uma atrás da outra. É preciso dar tempo para que Arthur descanse, caso contrário, sua barra vital nunca ficará estabelecida, limitando o personagem a determinadas atividades, como fugir a pé ou brigas mais extensas.
O primeiro Red Dead Redemption já trazia o famoso sistema em que uma câmera lenta aguça seus sentidos, destacando pontos críticos para eliminar um alvo. No segundo game da franquia há cinco níveis que facilitam ainda mais a lidar com essas situações, como desarmar um inimigo sem que o tiro seja fatal, ou atingir mais de um alvo.
Já os Olhos de Águia chegam como um elemento crucial para caçar uma determinada espécie ou até mesmo um animal lendário. Com eles, você pode encontrar pistas, desde pegadas e fezes, até o rastro por onde o seu objetivo seguiu.
Ainda sobre a atividade de caça, RDR2 conta com mais de 170 espécies de animais para serem encontradas ao longo do jogo. E a forma com que elas aparecem, torna o jogo ainda mais "natural". Tive o desprazer de ver o meu companheiro de viagem, Pé de Pano, ser atacado por um Urso Feroz e sair em disparada rumo ao infinito. Sobrou para mim a responsabilidade de abater o enorme animal pela honra do meu companheiro de cavalgadas. Não deu muito certo e Arthur foi devorado sem piedade, mostrando que, nessas horas, uma bazuca como a de Far Cry 5 faz uma falta absurda!
Sistema de procurado
Um dos sistemas mais divertidos e intrigantes de Red Dead Redemption 2 é o de Procurado. Quando Arthur começa a cometer delitos, sua barra de ações começa a nivelar para o lado vermelho, o que acarreta na sua foto em cartazes pelas cidades. Além de começar a ser procurado pela lei, o seu personagem chama mais atenção por onde passa.
Fugir desses status é o que torna tudo muito divertido. Em um determinado momento, arrumei uma briga generalizada pela cidade e acabei executando dois inimigos. Rapidamente os homens da lei foram atrás de mim, até que consegui contornar o espaço vermelho da área de alcance e me escondi entre pequenas montanhas.
Para burlar o sistema e voltar a circular pela cidade normalmente, arranquei todos os meus pelos do rosto (barba e bigode) e mudei completamente minha roupa, trocando até mesmo o chapéu por uma boina bem tosca e sem a mínima pinta de bandidão. Voltei na maior das caras de pau para a cidade e tive a minha rotina de volta.
O jogo também dá uma série de opções para que você não precise chegar a esse ponto. Desde escolher seus capangas para o trabalho mais sujo das ações, como tomarem a frente na hora de render funcionários de um estabelecimento, até mesmo mediar suas ações com os habitantes. As vezes é melhor não se meter em uma briga que não é sua e ficar livre, do que bancar o valentão e acabar atrás das grades.
O seu melhor amigo é um cavalo!
Em Red Dead Redemption 2 eles não são apenas meros animais utilizados para transporte, mas também um dos maiores coadjuvantes do game. Essa atenção especial começa com o cuidado no qual você precisa ter com eles. Nada de deixar o 'pocotó' passando frio, carregando mais peso do que o que ele aguenta, ou simplesmente deixando o animal com fome.
O game exige que você trate-os com carinho e atenção, afinal, eles serão seus melhores amigos ao longo da jornada. Para isso, é preciso ficar atento as barras de status do seu cavalo localizada próxima onde ficam as suas informações. Por exemplo, depois de um trote muito longo, a barra de fôlego do seu animal começa a diminuir, caso ela chegue ao final, você pode até mesmo ser derrubado com uma parada brusca. E quando o mesmo sente frio/calor ou está com fome, essa mesmo barra diminui em uma velocidade maior.
RDR2 também ficará marcado pela variedade de cavalos à sua disposição no jogo. São quase 20 raças, cada uma com seus diferenciais, que incluem até mesmo uma diferenciação no dote dos bichanos. Cada um deles possui características diferenciadas, como, por exemplo, mais velocidade ou a possibilidade de carregar mais peso.
O famoso sistema de personalização também chegou aos equinos. É possível escolher desde cores para a cela, até tipos de penteados para as suas crinas, com direito a rastafári e escovado para o lado. Posso dizer que é uma espécie de tunning equino que Red Dead Redemption 2 desenvolveu.
Visual para ser admirado
Deixei um dos quesitos mais importantes do jogo para o final, pois há elementos que merecem ser debatidos com mais detalhes. A parte visual do jogo é de deixar qualquer um impressionado, principalmente em seus sistema de luz e sombras que reproduz com muita fidelidade desde os primeiros raios de sol do amanhecer até o brilho de uma linda lua cheia.
É impressionante também o nível de detalhamento de inúmeros elementos do cenário. Desde plantas que, embora sejam da mesma espécie, tem o posicionamento de suas folhas bem diferenciado, até árvores que se movem de acordo com a intensidade dos ventos. Esses que sinalizam a chegada de uma tempestade e também são muito bem reproduzidos não apenas na parte visual, mas na interação com os personagens. Foi possível notar desde uma agitação maior de meu cavalo com os trovões, até um cavalgar mais lento diante da terra molhada pela forte chuva que caia.
Ainda sobre a quantidade de detalhes, tanto os animais (que passam dos 170 tipos de espécies) como os personagens trazem uma composição nunca antes vista. Como mencionado mais acima, é possível distinguir cavalos por particularidades em sua pele e tamanho, assim como os mais de 3 mil coadjuvantes no jogo onde cada um deles possui uma programação distinta, ou seja, possuem comportamentos diferentes.
Mas nem tudo são flores bem desenhadas. Joguei durante todo o período de testes Red Dead Redemption 2 em um PS4 Pro. A diferença para o console comum é enorme, principalmente na velocidade de execução, que consegue reproduzi-lo a 60 quadros por segundo. Entretanto, há muitas quedas de frames a todo momento, até mesmo em movimentos simples, como o ajuste de uma câmera ou a troca de uma visão.
Para exemplificar: logo no começo do jogo, há uma missão onde preciso ir com meu bando assaltar um trem em movimento. Se o jogo já ficava mais lento quando esses personagens apareciam juntos na tela, próximos do trem os quadros caem ainda mais, chegando a quase um pequeno travamento.
Não tive a oportunidade de testar o game em um Xbox One X, cujo poder do hardware é maior que o do PS4 Pro, portanto, não posso afirmar com toda certeza que é um problema pontual do videogame. Também há previsão de um update no momento em que o jogo for lançado, sexta-feira (26), mas prometo que irei atualizar o assunto muito em breve. Enquanto isso, o jeito é rezar para que sejam problemas pontuais e que não comprometam o produto final de um trabalho tão incrível como este.
Conclusão
Red Dead Redemption 2 consegue superar todas as expectativas e chega como um dos melhores jogos de todos os tempos. Com uma proposta ousada e bem executada de criar uma imersão nunca antes vista em um game, o título faz com que o jogador se sinta dentro do coração dos EUA, junto com um trabalho que leva o visual do título para um novo patamar.
O game mostra que não é preciso óculos de realidade virtual ou acessórios do tipo para imergir em um jogo de uma forma tão única, divertida e natural. E que a Rockstar a partir de hoje fique conhecida não mais como "a produtora de GTA'", mas sim como "a empresa responsável por Red Dead Redemption".
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