Kingdom Come: Deliverance é um RPG medieval de mundo aberto que se iniciou como um projeto ambicioso de financiamento coletivo da Warhorse Studios no Kickstarter. Com a promessa de uma experiência única, o jogo ganhou atenção e tornou-se uma das grandes apostas do gênero. Após quatro anos e muitos adiamentos, o game teve seu lançamento para PS4, Xbox One e PC (download via Steam) em parceria com a Deep Silver. Mas será que a espera valeu a pena? Confira em nossa análise.

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Um simulador da Idade Média

Kingdom Come: Deliverance é um RPG em primeira pessoa que deixa a fantasia para os livros de história. Ao invés de magia e dragões, temos um simulador do camponês na Idade Média. Você não é um herói, nem nobre e muito menos um lorde. Você é Henry, um jovem comum, pobre e que não tem onde cair morto. É apenas o filho do ferreiro, sem ambições ou qualquer habilidade.

Kingdom Come: Deliverance (Foto: Reprodução/Tais Carvalho)

O jogo se passa no coração da Europa medieval, na Boêmia do século 14 (atual república Tcheca), periodo em que a brutalidade, cavalheirismo e religião duelam entre si destruindo povoados e reinos. É neste cenário que a vida pacata de Henry é interrompida por um ataque violento, consequência de intrigas políticas entre o atual rei Wenceslaus e seu meio-irmão Sigismund, Rei da Hungria.

Com os pais mortos e a vila destruída, Henry começa uma jornada de vingança e sobrevivência. Mas não espere por uma história magica, na qual ele adquire habilidades extraordinárias ou tem a sorte beijando seus pés. Muito pelo contrário, o rapaz não sabe empunhar uma espada, não tem dinheiro, pode morrer com qualquer dor de barriga e nem sequer sabe ler e escrever.

A vida de Henry e de muitos outros é afetada por intrigas politicas em Kingdom Come: Deliverance (Foto: Reprodução/Tais Carvalho)

Liberdade e realismo são as chaves de Kingdom Come: Deliverance. Pontualidade, reputação e aparências são fatores que determinam os caminhos que Henry irá percorrer. Se você se atrasar para uma missão, os personagens irão sem você. Se for pego vendendo coisas roubadas, pode passar uns dias na cadeia. Comer demais te fará passar mal e ficar sem dormir deixará sua visão turva e desorientada. E beber muito te transformará em um alcoólatra.

São esses detalhes que tornam o jogo extremamente imersivo. Uma troca de roupa ou de diálogo pode abrir novas possibilidades para terminar uma missão. Não há apenas uma maneira de abordar uma situação – seja como um cidadão exemplar ou um bandido corrupto.

Henry é só um jovem comum sem grandes ambições em Kingdom Come: Deliverance(Foto: Reprodução/Tais Carvalho)

A vida do camponês

Antes de se envolver com assuntos da nobreza, Henry precisa cuidar de necessidades básicas, como fome, sono e higiene. Como é de se esperar em jogos deste gênero, o bem-estar do personagem afeta diretamente seu desempenho no combate e nos diálogos. Entretanto, Kingdom Come te pune pelos extremos com situações pensadas nos mínimos detalhes.

O roncar do seu estômago, por exemplo, pode acordar um inimigo no meio do seu ataque furtivo. O álcool pode soltar a sua língua e garantir bônus de carisma, mas os efeitos da ressaca podem durar algu

... mas boas horas. Quer a atenção dos nobres? Ande bem vestido, limpo e com joias. Contudo, se o seu objetivo é intimidar, uma roupa manchada de sangue fará o trabalho.
Henry pode desenvolver suas habilidades com treinamento em Kingdom Come: Deliverance (Foto: Reprodução/Tais Carvalho)

O personagem também tem seus próprios atributos. Apesar de ser um camponês comum, Henry pode aprender habilidades e vantagens através de treinamento. Não é tão rápido como seria em outros jogos, mas é gratificante. Com o tempo, o rapaz pode produzir poções, reparar armas, adquirir vantagens de resistência – sentir menos fome ou sono – e aprender a lidar com todo o tipo de situação. A reputação tem um papel importante em todos os diálogos.

É apanhando que se aprende

Em termos de realismo, o que mais se destaca é o combate. Se você espera por algo no estilo de Skyrim, esse não é jogo para você. A curva de dificuldade é o primeiro detalhe que se percebe ao puxar a espada pela primeira vez em Kingdom Come. Ela é punitiva, no entanto, não de uma maneira injusta - é pensada de acordo com as limitações de Henry.

O protagonista aprende a usar uma arma do zero. Ou seja, por mais que você saiba realizar os comandos durante uma luta, ela ainda é influenciada pelo que Henry sabe ou não fazer. Os equipamentos podem ter tanto impacto positivo como negativo, assim como o uso das armas.

Henry pode desbloquear vantagens para usar na vida e em combate em Kingdom Come: Deliverance (Foto: Reprodução/Tais Carvalho)

É possível usar camadas e mais camadas de roupa para ter maior proteção, só que isso limita a movimentação e a agilidade durante as lutas. Além disso, mesmo que você tenha uma arma forte, se Henry não tiver conhecimento para usá-la, ela não apresentará todo o seu potencial. Inclusive, pode ter um desempenho pior do que se ele estivesse usando uma mais fraca.

O combate em si é simples, com pequenos truques para esquivar e enganar o adversário. Você pode escolher o lado para qual vai atacar e apertar a defesa no tempo certo para bloquear perfeitamente. Henry não tem uma “classe”, então pode experimentar vários estilos de luta.

O combate de Kingdom Come é realista e brutal (Foto: Reprodução/Tais Carvalho)

O que chama atenção é que é possível sentir o peso do personagem e seus equipamentos. Os combates são brutais e, às vezes, não muito justos em questão de número. Usar um arco e flecha é um verdadeiro teste de paciência e persistência. A mira treme com a respiração do personagem e a força que o jovem usa para puxar a flecha vai esgotando sua estamina. Contudo, quando você realmente consegue acertar um alvo, a sensação é recompensadora.

Tempo é dinheiro (e reputação)

O treinamento é a prática. Quanto mais você lutar ou usar determinada arma, maior será o level com aquele equipamento. O mesmo vale para as conversas. Caso não queira lutar, pode tentar resolver tudo no bom e velho diálogo. O jogo te oferece a opção de abordar as situações de uma maneira pacífica – desde que você tenha talento suficiente para isso.

Os diálogos são muito importantes de diversas maneiras. É através deles que você se situará na história e poderá experimentar a mesma missão de um jeito diferente. Ao interrogar um camponês, por exemplo, você pode desbloquear uma ação opcional – e mais rápida.

Se você demorar para pagar uma dívida as pessoas vão te cobrar em Kingdom Come: Deliverance (Foto: Reprodução/Tais Carvalho)

Como citado antes, a pontualidade é um fator determinante em Kingdom Come. Às vezes, jogos têm missões que parecem urgentes, mas não limitam seu tempo para completá-las. Aqui é diferente. Se você não acompanhar os NPCs no momento certo, eles o abandonarão e, de quebra, sua atitude irá prejudicar o andamento da missão – e a sua reputação com a nobreza.

As cidades são “vivas” e seguem os horários rigorosamente, todos os dias. Assim como na realidade, você pode acabar pagando caro por querer fazer algumas coisas no seu tempo.

Henry pode ser obediente ou esperto, a escolha é sua em Kingdom Come: Deliverance (Foto: Reprodução/Tais Carvalho)

Na linha da frustração

O realismo é impressionante, mas em determinados momentos, beira a linha da frustração. O combate certamente não é para todos e o sistema de salvamento se torna o verdadeiro obstáculo em algumas situações. O que acontece é que Henry só pode salvar o jogo se dormir em uma cama própria ou usar um item chamado Saviour Schnapps (uma bebida alcoólica).

O problema é que inicialmente o item é caro e só pode ser fabricado quando o rapaz adquire a habilidade de alquimia – o que também custa dinheiro e tempo de treinamento. Quando se tem um combate tão realista, qualquer deslize pode ser a morte certa. Só isso já é frustrante o suficiente para se aborrecer ao perder mais de uma hora dentro de uma missão importante.

Perder horas de jogo por causa de um bug é muito frustrante em Kingdom Come: Deliverance (Foto: Reprodução/Tais Carvalho)

No entanto, o pior está na má otimização combinada com o sistema de salvamento. Fazer um jogo extremamente realista já é um desafio a parte, juntar todos os elementos como um todo é outro ainda maior. Kingdom Come: Deliverance ainda está cheio de bugs que realmente atrapalham o jogo. Ter de voltar um save de horas atrás porque seu personagem ficou travado em uma porta não é exatamente o tipo de experiência que os fãs de RPG estavam esperando.

Gráficos e som

Apesar dos pesares, o jogo tenta contornar (e corrigir) seus erros. O visual não cansa de impressionar e os cenários são muito bem ambientados para a época. Você verá castelos enormes, campos floridos e povoados agitados, como se fossem reais. 

Kingdom Come: Deliverance capricha na ambientação (Foto: Reprodução/Tais Carvalho)

Ao entrar em uma cidade, você ouvirá seus moradores, o barulho dos cascos dos cavalos, o bater da espada do ferreiro e verá o lamaçal que se forma nas ruas de cada beco. Se acordar bem cedo também poderá acompanhar o nascer do sol. São esses detalhes que fazem toda a diferença.

As animações e diálogos acompanham o nível de realidade, com exceção de algumas cenas em que os personagens fazem movimentos estranhos e meio “duros”. Já a trilha sonora é impecável e te transporta para a era medieval em instantes. No geral, a dublagem dos personagens é bem-feita e dá todo um charme para a história, que por si só já é extremamente cativante.

Você pode ver o nascer do sol em Kingdom Come: Deliverance (Foto: Reprodução/Tais Carvalho)

E se você ainda não estiver entretido o suficiente, ainda há mini games espalhados pelo mapa, como jogos de azar ou brigas de rua, além de encontros para divertir o jovem Henry.

Vale a pena?

Kingdom Come: Deliverance é um RPG que exagera no realismo da maneira certa. Com um enredo excepcional, repleto de personagens históricos e conflitos brutais, o jogo é uma experiência que não pode faltar para todo fã de RPG medieval. O game não precisa de criaturas místicas ou poderes sobrenaturais para se destacar entre o gênero. Ele o faz com um combate robusto, personagens que são "gente como a gente" e um protagonista que começa do zero para encontrar o seu lugar.

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