Uma das ambições mais evidentes da robótica é desenvolver o autômato perfeito: uma máquina capaz de simular a capacidade humana de pensar, aprender, lembrar e reagir de acordo com as mudanças em seu ambiente. Existem inúmeros caminhos sendo investigados em centros de pesquisa do mundo todo para chegar nesse estágio de desenvolvimento e um dos campos mais promissores é a aplicação do conceito de redes neurais no funcionamento dos robôs.

Androide usa redes neurais para se mexer sozinho e reagir a estímulos

Essas máquinas são equipadas com um tipo de tecnologia capaz de transformar as misturas de mecânica e eletrônica em um equipamento mais independente e similar ao funcionamento do cérebro humano.

Simulando o cérebro

Redes neurais buscam criar robôs mais independentes e capazes de reagir e tomar decisões de acordo com estímulos do ambiente (Foto: Divulgação/Columbi TriStar)

A ideia das redes neurais nasceu cedo na cronologia da eletrônica: as primeiras propostas de um tipo de tecnologia capaz de imitar o funcionamento do cérebro humano foram discutidas ainda na década de 40. De lá para cá, uma série de saltos tecnológicos relevantes - talvez o mais significativo deles foi o abandono das válvulas e o uso dos transistores, que deram origem à nossa microeletrônica atual - tornaram a proposta cada vez mais viável.

Em linhas gerais, quando se fala em redes neurais se faz alusão ao princípio de criação de um cérebro artificial: uma máquina eletrônica capaz de funcionar de forma similar ao cérebro humano, que é capaz de aprender e de tomar decisões de forma independente de um controlador externo.

Embora a noção de redes neurais tenha aplicação em diversos campos da tecnologia, é na robótica que as pesquisas de vanguarda estão sendo realizadas.

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Impacto no dia a dia

Google aplica noções de redes neurais em diversos produtos. Deep Dream é um deles: um cérebro que sonha (Foto: Reprodução/DeepDream)

A ideia de simular o cérebro em máquinas parece ficção científica, mas em certa medida, as redes neurais já são realidade em uma série de projetos de ponta e em algumas aplicações com as quais temos contato diariamente.

O Google, por exemplo, encabeça uma série de projetos que aplicam as noções de redes neurais. O DeepDream é um exemplo, a tecnologia é usada para simular uma máquina que sonha.

Alguns serviços do Google, como o Tradutor, busca de imagens e Gmail, já se beneficiam de conhecimentos desenvolvidos no uso dessa tecnologia em um formato que aprende com o uso para se tornar mais eficiente no futuro.

Outros usos recorrentes das redes neurais estão em assistentes, como a Cortana, da Mircosoft. A Apple já desenvolve uma tecnologia nova para a Siri, que deverá tornar a assistente efetivamente capaz de entender o que você diz, hoje ela apenas reage a padrões pré-definidos.

Próteses

Quando se fala na aplicação das redes neurais e

... m projetos de robótica a imagem que todos criam na mente é aquela do robô independente. Mas um dos desdobramentos mais interessantes da pesquisa está na aplicação dessa tecnologia em próteses para pessoas que sofreram amputações.
Brasileiro Miguel Nicolelis desenvolve pesquisas relacionadas ao uso de interfaces entre cérebro e máquina (Foto: Divulgação/Universidade de Duke)

Uma prótese equipada com essas capacidades poderia funcionar de forma muito mais confortável, criando uma interface de comunicação com o cérebro do paciente. Por exemplo, se o usuário pensa em mover a perna prostética, a rede neural disponível no membro artificial reage a esse comando, permitindo a reação instantânea da perna mecânica, permitindo que ela se comporte de uma maneira muito mais natural e próxima daquela esperada de uma perna de verdade.

Um dos líderes mundiais nesse campo específico da aplicação de redes neurais é brasileiro. O doutor Miguel Nicolelis realiza há alguns anos pesquisas nesse sentido na Universidade de Duke, nos Estados Unidos, com diversos resultados promissores na tarefa de criar uma ponte de comunicação entre cérebro humano e cérebro eletrônico.

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Robôs que aprendem e pensam é uma boa ideia?

A questão das redes neurais aplicadas a máquinas independentes, capazes de reagir ao ambiente de forma independente, levanta uma série de questionamentos filosóficos sobre ética. Até que ponto um robô desse tipo está vivo, além dos limites possíveis para esse tipo de máquina: se elas forem independentes e inteligentes demais pode haver risco de que elas se rebelem?

O robô japonês Alter usa redes neurais para se mover de forma completamente independente: ele não obedece a uma programação (Foto: Divulgação/Universidade de Osaka)

Por mais que essas questões sejam extrapoladas em filmes, séries e livros ao ponto de terem se tornado um pouco gastas e soarem até infantis para quem gosta de ficção científica, elas levantam perguntas importantes sobre o que esperamos dos robôs.

Entretanto, ainda estamos bem longe de precisar responder essas perguntas porque ainda não temos capacidade de criar máquinas tão independentes e inteligentes que possam ser capazes de nos ameaçar em qualquer medida, ou que possam ser consideradas vivas.

O nível de sofisticação tecnológica em termos de hardware para que um computador (ou mesmo uma grande quantidade deles) simule um único cérebro ainda é algo inviável: nosso hardware não é poderoso o suficiente . Mesmo que processadores com esse poderio estivessem disponíveis, as demandas de energia elétrica e espaço físico para que funcionassem seriam simplesmente impraticáveis.



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