Desde a sua concepção, a tocha olímpica criada para os Jogos da Rio 2016 é um artigo recheado de tecnologia. Indicada pela revista Wired como um dos objetos de design mais “inteligentes” de 2015 — ano em que foi apresentada ao público —, a tocha também foi objeto de interesse de um famoso canal de YouTube, o What’s Inside, que cerrou o objeto ao meio para mostrar detalhes de como tudo funciona. É certo que curiosidade é o que a tocha olímpica mais despertou nas pessoas que a viram de perto e de longe. Para desvendar alguns mistérios, o TechTudo conversou com Gustavo Chelles, designer da tocha, e conta curiosidades tecnológicas da peça que marcou os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
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As novidades da tocha usada no revezamento da chama olímpica no Brasil são inúmeras: é a primeira vez que uma tocha possui um mecanismo de expansão — com corpo retrátil — e uma tocha paralímpica com escrita em braile, levando os valores e as cores do movimento paralímpico. Entretanto, uma das inovações que envolve vídeo e Internet chama a atenção: pela primeira vez, foi instalada uma câmera dentro da tocha olímpica, que registrou imagens inéditas de um um ângulo nunca visto antes.
Chelles, designer responsável pelo projeto da tocha, conta que a ideia de introduzir uma câmera no projeto veio desde o primeiro conceito de design. A expectativa era captar a experiência do condutor — um souvenir carregado de emoção para cada um que conduzisse a tocha pelas ruas do Brasil. Porém, antes de ter uma boa ideia, era preciso ter os pés no chão: por câmeras em cada uma das 14 mil unidades a serem produzidas (sendo 12 mil tochas olímpicas e mais 2 mil tochas paralímpicas) tornaria o projeto mais caro, mais complexo e ainda mais demorado. Sendo assim, o comitê da Rio 2016 optou por um número menor e mais viável de unidades: nove "tochas smart".
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Para o registro das imagens, foi utilizada uma famosa câmera de ação compacta, para gravar vídeos em resolução 4K. Após adaptar o projeto, foi preciso ainda lidar com alguns obstáculos inesperados em design, hardware e software. Entretanto, nada que impedisse a equipe de tornar realidade.
"Tivemos que alterar o local para uma região da tocha que proporcionasse mais espaço tanto para a câmera quanto para os cabos. Projetamos um sistema de adaptação de tochas prontas e remontamos com as câmeras dentro. Desenvolvemos uma solução para carga de bateria e acesso a dados criando uma porta USB, de forma que a câmera ficasse o mais discreta possível", conta Chelles.
Mas, não foi só isso. Uma vez a câmera instalada, o aparelho precisava funcionar. "Tivemos que contornar uma limitação da câmera para conexão com dispositivos iOS (iPhone), que eram os suportados pelo Twitter para o streaming via Periscope" [na época], explica. Ainda segundo Chelles, o pareamento entre os dispositivos — câmera e smartphone — demandava visualizar o LCD da câmera, o que não era previsto na montagem inicial. Para resolver o problema, foram colocados
Em uma posição vertical, houve problema ainda com a orientação do vídeo para o Periscope, que processava imagens em landscape (em linha horizontal). Foi aí que entrou a ajuda da equipe do Twitter — microblog que opera o aplicativo de streaming — que conduziu funcionários na Califórnia para recompilar uma versão especial do Periscope para o projeto da tocha olímpica, que rotacionasse a imagem automaticamente, permitindo o stream.
"O resultado foram imagens fantásticas e a prova de que aqui no Brasil também conseguimos criar e viabilizar inovações", encerra Chelles. Depois de usadas, as tochas inteligentes deverão ser levadas a museus, e não vão participar de leilão.
Desenvolvimento high-tech
Do papel para a linha de produção foi cerca de um ano. Em oito semanas, ao longo de 2014, a equipe preparou o desenvolvimento conceitual para disputar a concorrência de criação, aberta pelo comitê da Rio 2016. A primeira tocha olímpica ficou completamente pronta no final de 2015.
Pesando 1,38 Kg, com composição básica 100% em alumínio reciclado, resina termoplástica de engenharia e aço inox, o estaque do objeto é o design expansível no topo — onde fica a chama olímpica. Todas as partes que formam a tocha foram cortadas a laser, para se encaixar perfeitamente com o movimento. Com componentes construídos em resina industrial, o objeto é resistente à alta temperatura provocada pela chama, acesa durante os percursos de 200 metros.
A textura de formas geométricas no entorno da tocha também foram gravadas a laser e, para a Paralimpíada, ganharam a companhia de conteúdo em braile em serigrafia, adaptados em 3D para atender à legibilidade.
JOGOS:
Rio 2016 – Aventuras de Tom
Rio 2016 — Corrida do Vinicius
Rio 2016 — Olympic Games
Tudo isso foi testado na Universidade de Terrassa (Catalunha). Para garantir que funcionasse 100% foram utilizados equipamentos como túnel de vento e volumetria de precipitação — trabalhando como uma proteção contra o vento e a água da chuva em várias camadas — assim como calorímetros.
Câmera, selfies e streaming ao vivo
Ao todo, nove tochas olímpicas tiveram uma câmera embutida — sendo sete tochas olímpicas e duas paralímpicas. A iniciativa é inédita em Jogos Olímpicos. Na Era da Selfie, uma famosa câmera de ação coube exatamente entre as peças de alumínio e fez mais de 20 gravações neste ano.
Além dos registros em vídeo da câmera interna instalada na tocha, outra novidade foi a transmissão de imagens ao vivo. A tocha foi conectada ao Periscope pela conta da Chama Olímpica (@ChamaOlimpica) para fazer streaming de momentos marcantes do revezamento.
O vídeo ao vivo foi transmitido através de uma conexão entre câmera e celular via Wi-Fi, usando o aplicativo da câmera. Depois, da conexão 4G direto para o Periscope, app de vídeos ao vivo do Twitter. Segundo a Rio 2016, a tocha com câmera tem capacidade de gravar e transmitir ao vivo em 4K.
*Colaborou Luana Marfim
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